Cinco personagens surreais da novela ‘O Outro Lado do Paraíso’
A Justiça da trama é um caso à parte: enquanto Suzy gesta seu filho no tempo normal, delegado pedófilo foi acusado, julgado e preso em intervalo recorde
Uma vidente que tudo antecipa, menos que o médico que há mais de cem capítulos cerca a sua querida Clara (Bianca Bin) na verdade é o grande vilão da história. Um delegado que, apesar dos tantos anos de carreira e de relação com criminosos, não sabe que estupradores são odiados e perseguidos nas prisões. Um morto muito louco, que depois de bater a cabeça e sangrar até o óbito, reaparece vivo e charmoso, embora pobre. Confira abaixo os personagens (e as histórias) mais difíceis de engolir de O Outro Lado do Paraíso.
Mãe Mercedes
A personagem de Fernanda Montenegro – que, aliás, merecia papel melhor – fala com espíritos e tem poderes sobrenaturais. Foi ela quem, em contato com as vozes que escuta, fez a juíza Raquel (Erika Januza) voltar a andar, depois de ser atropelada por Rato (Cesar Ferrario), capanga da maléfica Sophia (Marieta Severo) e condenada pelos médicos. E é ela quem antecipa grande parte da trama. “Clara, sua irmã precisa de você”, avisou a mocinha, no instante em que a advogada Adriana (Julia Dalavia) sofria um acidente. Todo esse poderio, no entanto, não bastou para que Mercedes enxergasse o grande vilão da trama: Renato (Rafael Cardoso), que desde o primeiro capítulo da novela das 9 da Globo cerca a boazinha Clara, de olho nas terras de sua família, repletas de esmeraldas.
Justiça a jato
Sui generis, a Justiça do folhetim de Walcyr Carrasco é, por si só, um personagem à parte. Nunca se viu judiciário tão eficaz. Há meses, a enfermeira Suzy (Ellen Rocche) está de cama devido às complicações de uma gravidez difícil. Enquanto Suzy briga com Cido (Rafael Zulu), novo companheiro de seu ex-marido, o psiquiatra Samuel (Eriberto Leão), pai do filho que espera, o delegado corrupto Vinícius (Flavio Tolezani) foi desmascarado como o pedófilo que abusou da própria enteada, Laura (Bella Piero), depois de ela ser submetida a sessões de hipnose, foi denunciado, indiciado, julgado e preso. De dar inveja a Sergio Moro.
Lobo bobo
E Vinícius foi delegado por, no mínimo, mais de dez anos. Apesar do posto e do contato frequente como outros criminosos, desconhecia a lei interna dos presídios, onde molestadores e estupradores como ele são sumariamente condenados à morte. Ao chegar à penitenciária, ouviu do diretor do local que havia ali uma “lei não escrita”, pela qual abusadores eram mortos. Escutou calado, como se fosse uma novidade, e depois não a levou em conta. Na primeira oportunidade, saiu para fumar com os outros presos e terminou esfaqueado.
Rato Pato
Outro bicho estranho nesse matagal. Capanga de Sophia que a viu levar dois à morte por tentar chantageá-la, Rato percorreu o mesmo roteiro sem desconfiar de que a megera tramava contra ele. Ameaçou a chefa para arrancar dinheiro dela e, pam, levou a sua dose de tesouradas. Sophia executou e enterrou Rato em uma estrada de terra que, segundo ela, ninguém mais usa. Mas, que coisa, já no dia seguinte um cidadão passou por lá de carro e parou para se aliviar justamente no ponto onde jazia Rato, a mão direita despontando da sepultura. Mais um caso de brevíssima resolução na trama da Globo.
Morto muito louco
Ok, tramas folhetinescas ressuscitam personagens. Mas O Outro Lado do Paraíso poderia fazê-lo de maneira mais crível. A morte de Renan (Marcello Novaes) na primeira fase da novela não deixou margem para o seu retorno. Além de rolar um lance de escadas, o que na casa de Nazaré Tedesco (Renata Sorrah) já carimbaria o passaporte para o além, ele bateu em uma mesa de vidro e, por conta da pancada na cabeça, sangrou até se ver sobre uma poça vermelha. Ainda foi examinado por um detetive, que não encontrou seu pulso. Mas eis que Renan volta, sem qualquer sequela ou sinal trágico, exceto pelo fato de ter ficado pobre – vai ver, é isso a morte no universo de O Outro Lado do Paraíso.