Ganhadora de um Nobel de Literatura e de um Prêmio Pulitzer, a escritora Toni Morrison traçou com sua pena romances poéticos sobre temas duros — especialmente voltados para as feridas da escravidão e do racismo nos Estados Unidos. A autora, que influenciou diversos outros escritores e até roteiristas, como Shonda Rhimes, morreu na segunda-feira 5, aos 88 anos de idade, deixando onze romances publicados, além de ensaios e textos infantis. Confira abaixo cinco de suas principais obras:
O Olho Mais Azul (1970)
Primeiro romance de Toni, publicado quando ela tinha 39 anos, o livro conta a história de uma garota negra na década de 1940 em Ohio, que sonha ter olhos azuis. Para a menina, a brancura é sinônimo de beleza em um mundo assombrado pela escravidão e cercado de referências que associam garotas brancas ao que é “correto”.
Vívido, sensível, mas também duro e sem filtros, o livro foi descrito pelo jornal The New York Times como “uma prosa tão precisa, tão fiel ao discurso e tão carregada de dor e assombro que o romance se torna poesia”. À época, teve uma resposta ambivalente do público, com baixas vendas. Ganhou reconhecimento ao entrar para uma lista de leitura de uma universidade. Desde então, enfrentou desafios legais e chegou a ser banido em escolas de vários estados americanos por tratar de temas tabu como incesto e abuso sexual infantil.
Amada (1987)
Com seu quinto livro, Toni ganhou status de celebridade ao dramatizar a dolorosa história real de Margaret Garner, uma escrava que tem sua busca pela liberdade marcada pela complicada relação com a filha, que nasce durante sua fuga.
“É uma obra-prima americana, a qual repensa, de um jeito curioso, todos os grandes romances da época em que é escrito”, escreveu A.S. Byatt, no jornal The Guardian, por ocasião do lançamento.
Em decisões polêmicas, Amada foi preterido em dois dos principais prêmios americanos da área ao ser publicado, levando 48 escritores a assinarem uma carta aberta na New York Times Book Review denunciando o não reconhecimento de Morrison.
Em 1988, veio, então, o Prêmio Pulitzer, e o livro foi adaptado para o cinema dez anos depois como Bem-amada, filme estrelado por Oprah Winfrey como a mãe, Sethe.
Jazz (1992)
A aclamada e chocante trama se passa na década de 1920, no Harlem, bairro negro de Nova York, e narra a história de uma jovem baleada pelo amante e que ainda é alvo do ódio da esposa traída, mesmo após sua morte. A obsessão amorosa se mescla com os dramas e temores de uma época em que a cidade grande faz promessas além do que vai cumprir.
A genialidade da autora é percebida na construção do romance que flerta com o estilo musical do título, com notas em desarranjo, quase independentes, criando uma cacofonia harmoniosa. Diversos narradores parciais apresentam seu ponto de vista, mudando a perspectiva da trama. A música em si, claro, também permeia o romance, segundo da trilogia iniciada por Amada.
Paraíso (1998)
Paraíso completou a trilogia de romances de Toni iniciada com Amada e seguida por Jazz, desafiando a leitura dominante do passado, ao explorar, especificamente, a história afro-americana desde meados do século XIX até os dias atuais.
Na trama, uma cidade fictícia e utópica é habitada apenas por negros, que se refugiaram ali depois da escravidão. Rígidos seguidores de uma extrema lista de regras, os habitantes se chocam com a chegada de forasteiras, sendo uma delas branca. A crise culmina em um brutal assassinato.
Primeiro livro escrito depois de ser agraciada com o Nobel de Literatura, em 1993, Paraíso apresenta o típico estilo de múltiplas vozes narrativas com saltos temporais para falar sobre preconceito e identidade.
Voltar para Casa (2012)
“De quem é esta casa?” é a pergunta que abre o romance, que trata de um outro tema recorrente no trabalho de Toni: o que é um lar e como isso molda ou dilacera o ser humano.
Nele, a escritora conta a história de um rapaz nos seus 20 anos que volta para casa, em Seattle, depois de lutar na Guerra da Coreia. Um jovem que deixa “um exército integrado” para retornar para “um país segregado”, como escreveu o jornal The New York Times em uma resenha na época do lançamento. No retorno, ele encontra a irmã, oprimida por uma sociedade machista. Ambos terão, então, que encontrar novos significados para recomeçar.