O ladrão arromba um carro e descobre que o veículo foi transformado em arapuca por seu dono, que se vinga da violência urbana torturando-o. Em cartaz nos cinemas, o longa nacional A Jaula tem uma premissa que faria qualquer principiante tremer: centrada na figura controversa do bandido, a ação é quase toda restrita ao interior claustrofóbico do automóvel. É uma bela surpresa ver um papel tão desafiador ser defendido com brio por Chay Suede — um ator que os espectadores se acostumaram a ver na pele de bom moço em novelas como Amor de Mãe, da Globo. Gravada em 2018, antes da pandemia, a trama de A Jaula atesta por que o capixaba é um nome que — com perdão pelo trocadilho — roubou a cena em sua geração. Por quase uma hora, Chay atua sozinho como o ladrão Djalma, interagindo só com a voz do algoz, que se comunica pelo rádio, e demonstrando versatilidade e intimidade com a câmera.
Rebeldes – Meu jeito seu jeito
Império – Nacional 1
Mal parece que o traquejo para o ramo foi descoberto quase por acidente. Ele foi apresentado ao Brasil em 2010, aos 17 anos: na gincana musical Ídolos, da Record, ganhou a alcunha de “príncipe Chay”. Não cogitava ser ator até receber um convite da emissora para protagonizar Rebelde (2011), adaptação brasileira do fenômeno adolescente da Televisa. “Cheguei a pensar em dizer não, mas meu pai me motivou a aceitar. Foi uma experiência que mudou minha vida”, disse ele a VEJA. O mais novo do elenco e com bagagem zero na área, Chay se revelou o nome de maior sucesso do sexteto — que contava também com outro galã juvenil, Arthur Aguiar. Basta acompanhar a trajetória de ambos para constatar sua evolução impressionante de lá para cá: enquanto o ex-colega Aguiar luta hoje no BBB para limpar a imagem de infiel que levou a seu cancelamento nas redes, Chay virou um nome associado a prestígio no cinema e na TV.
Para ser levado a sério, porém, ele teve de ralar. Após a projeção ganha em Rebelde, sua imagem foi afetada por acusações de imaturidade e deslumbre com a fama. “Acho que existia certa insatisfação com o fato de um calouro de reality show fazer personagens importantes”, diz. Em crise, pensou em desistir de ser ator — mas o chamado da Globo para encarnar a versão jovem do Comendador, anti-herói da novela Império, em 2015, o colocou de novo no jogo. Seu ponto de virada veio na novela: foi aí que descobriu um pendor para o trabalho duro — e uma sede sem fim de aprender. “Ele é um ator empenhado, que não coloca o ego na frente do papel, sabe que atuação é disciplina”, diz Eduardo Milewicz, preparador de elenco de Império. “Ele nutriu muitos atores que se espelharam na sua evolução”, completa Milewicz — que Chay considera seu mentor. “Ao vê-lo trabalhar, decidi que queria viver disso até o fim da minha vida”, diz. Alexandre Nero, versão mais velha do Comendador, além de “cidadão de bem” que é o algoz de Chay em A Jaula, corrobora a boa relação nos bastidores: “Temos uma troca de ideias e de estudo muito legal. Viajamos juntos para a novela, fizemos música, bebemos. A química bateu”.
Nascido em Vila Velha, o ator — que fará 30 anos em junho — foi batizado com o mesmo nome do pai, Roobertchay, inventado pelo avô como tradução do seu próprio, Salustiano, em uma língua criada por ele. Religioso, ele se descreve como cristão — mas não evangélico. “Busco aprender com o Evangelho de Cristo e é esse rastro amoroso que sustenta minha vida. Mas acho que as coisas que hoje estão associadas ao rótulo de evangélico estão muito distantes do propósito cristão”, pondera. Além de fiel a Deus, Chay é um rapaz comprometido. Junto com a esposa, Laura Neiva, e os filhos Maria, de 2 anos, e José, de 3 meses, leva, hoje, uma vida família. Galã rebelde? Só mesmo na tela.
Publicado em VEJA de 2 de março de 2022, edição nº 2778
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