Em 2017, quando a série La Casa de Papel tomou de assalto a Netflix, tornando-se uma das atrações mais assistidas da plataforma em todo o mundo, sua música de abertura também ganhou um lugar ao sol. My Life Is Going On entrou na lista das mais tocadas dos principais serviços de streaming e pôs no mapa-múndi o nome de sua intérprete: a cantora espanhola Cecilia Krull, de 35 anos. Antes da série, ela era uma requisitada artista da cena jazzística de Madri. Mas, após as 100 milhões de reproduções da faixa no Spotify, composta por ela em parceria com Manel Santisteban e cantada em inglês, Krull conquistou o estrelato internacional.
Agora, ela volta a cantar na série, dessa vez interpretando em português a música Grândola Vila Morena, uma canção patriótica de Portugal, usada como senha para dar início à Revolução dos Cravos, em 1974, pondo fim à ditadura salazarista. “É verdade que a Revolução em Portugal foi pacífica e a série é o oposto, nada pacífica. Mas há a mensagem de liberdade implícita”, disse Cecilia Krull com exclusividade a VEJA por videoconferência. Ela é um dos maiores exemplos do poder que as séries de TV produzidas pela Netflix fora dos Estados Unidos têm de catapultar à fama global não só atores, roteiristas e diretores, mas também os intérpretes musicais.
Apenas para ficar no exemplo de La Casa de Papel: quando a série foi lançada, a canção Bella Ciao também explodiu. Usada pelos italianos durante a II Guerra Mundial na resistência contra o fascismo e símbolo inescapável do país, a música de repente se tornou um hit em todo o mundo, inclusive no Brasil – ganhando até versões em ritmo de funk e forró. Agora, a aposta dos produtores é que a interpretação de Grândola Vila Morena por Krull também cause o mesmo efeito, embora a música não tenha o mesmo apelo pop de Bella Ciao.
O sucesso nas trilhas sonoras está permitindo também à cantora realizar outro sonho: gravar seu primeiro álbum autoral. O trabalho, que será mixado e masterizado na França, tem previsão de lançamento para o final do ano. “A série foi uma espécie de trampolim para minha carreira musical e um sonho que se tornou realidade”, diz ela. “Jazz é a minha paixão. É o meu berço. É o que eu mais ouvia em casa quando era criança”. No novo álbum, as faixas deverão privilegiar soul, blues, pop e rock. “Gosto da versatilidade de voar por aí, mas seguramente terá muito de jazz também”.
Antes de despontar em La Casa de Papel, ela fez dublagens para filmes da Disney e gravou temas musicais de outras séries de TV, sempre em parceria com o compositor Manel Santisteban. “Desde então, já gravamos juntos os temas das séries espanholas como El Accidente e Vis a Vis!, e dos filmes Paixão Sem Limites e Fuga de Cérebros”, conta.
De família de músicos, Krull tem mãe cantora e pai pianista. O avô tocava acordeão. Ela cresceu ouvindo música clássica e também MPB e Bossa Nova. Vem do Brasil boa parte de sua inspiração musical. “Sempre ouvi Tom Jobim, Milton Nascimento, Elis Regina e Djavan. Eles são grandes referências para mim”, afirma. Embora cante a nova canção da série em português (e entenda a língua), ela não fala fluentemente o idioma. “É uma questão de fonética. Em espanhol, dizemos ‘libertad’ e em português é ‘liberdade’. A diferença é mínima”.
Com a parte 2 da última temporada de La Casa de Papel prevista para estrear em 3 de dezembro, a cantora acredita que sua música ganhará ainda mais repercussão no Brasil. “Eu sabia que a série seria um sucesso, mas jamais pude imaginar que seria tão grande. Recebo vídeos de brasileiros fazendo covers das minhas músicas. A última parte da série terá algumas boas surpresas”, adianta. Tomara que sejam tão boas quanto suas músicas.