Bacurau, filme brasileiro dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, venceu neste sábado o prêmio do júri no Festival de Cannes. O longa terminou a competição empatado com o francês Les Misérables.
As produções concorriam à Palma de Ouro, o prêmio mais importante do evento francês. No total, a cerimônia principal entrega seis estatuetas além da Palma em si: o grande prêmio (uma espécie de segundo lugar), o prêmio do júri (o terceiro mais importante), e os específicos, de direção, roteiro, ator e atriz.
Já a Palma de Ouro 2019 foi para Parasite, filme sul-coreano assinado por Bong Joon-ho, diretor de longas populares como Expresso do Amanhã e Okja. O longa conta a história de uma família pobre que vive em um porão infestado por pragas. Eles forjam um diploma para que um dos filhos possa dar aulas de inglês para uma família rica.
Essa é a primeira vez que o Brasil vence o prêmio do júri em Cannes. Liderado pelo diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, o júri de 2019 contou com a atriz Elle Fanning, as diretoras Maimouna N’Diaye, Kelly Reichardt e Alice Rohrwacher, os diretores franceses Enki Bilal e Robin Campillo, o grego Yorgos Lanthimos e o polonês Pawel Pawlikowski.
Na trama do filme, Bacurau é uma pequena cidade fictícia que acaba de perder sua matriarca, Dona Carmelita (Lia de Itamaracá). O vilarejo some, então, do mapa. O sinal de celular também desaparece. E assassinatos começam a acontecer. Só que o lugarejo formado por personagens em geral simples e sem recursos não vai aceitar isso simplesmente.
O longa desfila uma galeria variada de personagens, sem focar muito em nenhum. Os maiores destaques são Teresa (Bárbara Colen), que vem da cidade grande trazendo remédios, a médica sem papas na língua Domingas (Sonia Braga) e Michael (Udo Kier), estrangeiro que está envolvido nos misteriosos crimes. Já Lunga (Silvero Pereira) é uma quase lenda de gênero fluido, visto como bandido por uns e herói por outros.
Com uma mistura de gêneros que vai do western e do western spaghetti à ficção científica, do surreal ao filme de cangaço, com toques de terror à John Carpenter, subvertendo mitos e exaltando outros, Bacurau é cerebral, mas também intrigante e por vezes engraçado, mas lhe falta um pouco de tensão. É uma ode à resistência cultural, seja aos estrangeiros ou ao dominante eixo Rio-São Paulo, e também à resistência política contra os governantes desinteressados no povo e que lucram com a sua desgraça.