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Brasil mergulha na onda revival dos anos 1990

O retorno de várias bandas nos Estados Unidos e na Inglaterra - com shows marcados para São Paulo - acende a nostalgia do britpop e do grunge

Por Rodrigo Levino
15 nov 2010, 07h58

As bandas retornam aos palcos – ou insistem em não acabar – basicamente por dinheiro. A maioria delas poderia passar despercebida, mas encontra abrigo no público que é pura, para usar um termo da neurociência, “memória musical-emocional”

Em outubro, quando a banda americana Rage Against The Machine fez um show incendiário no festival SWU, no interior de São Paulo, a impressão corrente era que o público havia voltado no tempo. Não só pelo discurso político mofado da banda, mas sobretudo pelo retorno recente de um dos ícones dos anos 1990. A platéia, já não tão jovem, tinha as letras e os riffs de guitarra na ponta da língua.

Um mês depois, a escocesa Belle and Sebastian, criada em 1996, fez show em São Paulo com casa cheia. Estava aberta a temporada do revival dos anos 1990. Até dezembro, a cidade receberá mais quatro concertos típicos de meados da década passada: Massive Attack (16/11), Smashing Pumpkins (20/11), Pavement (20/11) e Stone Temple Pilots (09/12).

Retornados (RATM, Smashing Pumpkins, Pavement e Stone Temple Pilots) ou em atividade desde então (Belle and Sebastian e Massive Attack), as bandas são sintoma de um revival que tende ao insuportável. Tome-se por medida o retorno aos anos 1980, no início década passada, com sua epidemia de shows e festas Ploc que resgataram nomes da época, a maioria dispensáveis.

Stone Temple Pilots
Stone Temple Pilots (VEJA)

As bandas retornam aos palcos – ou insistem em não acabar – basicamente por dinheiro. A maioria delas poderia passar despercebida, mas encontra abrigo no público que é pura, para usar um termo da neurociência, “memória musical-emocional”. É isso mesmo. As justificativas para o revival versam sobre emoção e memória. Cleo Correia, médica do departamento de Neurologia do Comportamento da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), define a música como “um indicativo de que o indivíduo é capaz de produzir prazer e gratificação. Ela é mobilizante e repleta de significados”. Entre muitos, o de uma época, a adolescência, em que as responsabilidades eram escassas e a música era uma parceira constante de festas, grupos de amigos e de importantes vínculos afetivos.

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O que ajuda a explicar sem arestas a turba que se pode encontrar nesses shows, pais de família e profissionais sisudos entregues às lágrimas, cantando tudo como se houvesse apenas ontem. São os mesmos que incutem nos filhos e irmãos mais novos as músicas de sua juventude e, renovando o público, dão fôlego à cultura pop. Além de, claro, muito dinheiro para as contas bancárias das bandas.

EUA versus Inglaterra – Grupos dos dois movimentos musicais mais significativos dos anos 1990, o britpop (inglês) e o grunge (americano), resistem ao tempo e há três anos tem anunciado às pencas seus retornos.

Do lado inglês, a volta mais significativa foi a do Blur, liderado pelo competente Damon Albarn, que desde o primeiro fim da banda, em 2003, virou-se no mundo da música com o Gorillaz e o natimorto The Good, The Bad & The Queen.

Em 2008, quando a banda se apresentou no Hide Park, em Londres, encontrou 100 mil pessoas com as músicas cantadas a plenos pulmões. Como se 1995 fosse logo ali. Foi o impulso que faltava para retomar as atividades e a banda promete disco de inéditas para 2011. Dessa vez, não vão ter com quem brigar, como era clássico na época em que disputavam o panteão do pop inglês com os irmãos Noel e Liam Gallagher, do Oasis. A banda rival foi na contramão e acabou em 2009, embora Liam siga com banda nova, a Beady Eye.

Pavement
Pavement (VEJA)
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O clima de saudosismo é ainda mais forte do lado de cá do Atlântico. A volta do Soundgarden e do Alice in Chains (sem o vocalista Layne Staley, morto por overdose) pilares do grunge americano que catapultou as bandas Temple Of The Dog, Pearl Jam e por tabela o Smashing Pumpkins, somou-se ao recente encontro do baterista Dave Ghrol e do baixista Chris Novoselic, ex-Nirvana, para gravação de uma faixa do próximo disco do Foo Fighters, banda do primeiro. Se Kurt Cobain ainda estivesse vivo, não seria difícil imaginar uma nova invasão das camisas de flanela xadrez.

Efeito colateral – Se por um lado os revivais adoçam a memória dos saudosos, lotam shows e garantem o caixa de bandas que marcaram época com canções memoráveis (vide Smells Like Teen Spirit, Wonderwall, Creep e Country House), por outro, abrem uma tumba de onde saem lixos inomináveis.

Para cada canção de bandas como The Cure, Joy Division e The Pretenders que até hoje se ouve nas resistentes festas dedicadas aos anos 1980, um Sidney Magal e uma Gretchen ganham sobrevida. Porque não há uma época em que o talento não estivesse rodeado de one hit bands e personagens que foram engolidos pela efemeridade do mundo pop.

Na Europa e nos Estados Unidos, pipocam rádios e festas temáticas dos anos 1990. Não demora e, como a escalação dos próximos shows no Brasil indica, tal década se fará presente também aqui com tudo de bom que ela representou principalmente para o rock. O duro vai ser agüentar a enxurrada de Virgulóides, É O Tchan (atualmente em turnê de volta aos palcos) e Ace Of Base que sempre vem de brinde.

Clique nas opções abaixo e relembre bandas brasileiras que marcaram os anos 1990

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