Basquiat: glamour marginal ou empulhação?
Uma retrospectiva revela quanto há de lenda cultivada e de talento real na obra do ex-artista de rua
A edição de VEJA que circula nesta semana traz uma reportagem sobre a retrospectiva do pintor americano Jean-Michel Basquiat (1960-1988) que entra em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) na quinta-feira 25, aniversário de São Paulo. A mostra oferece a chance de reavaliar o fenômeno a uma distância temporal segura: depois de trinta anos, a obra de Basquiat mantém alguma relevância ou caiu na vala comum dos modismos da arte contemporânea? Pintor que saltou da pichação anônima de muros para o estrelato no circuito milionário das artes na metrópole americana, Basquiat se transformou da noite para o dia em amigo do artista pop Andy Warhol, colecionou namoradas como a então novata Madonna e mergulhou em prazeres caros, de caviar a ternos de grife. Foi um apogeu brevíssimo: aos 27 anos, ele não resistiu a uma overdose de speedball, um coquetel de cocaína e heroína. O artista — que, além de pintar, tinha uma barulhenta banda experimental — viveu e morreu à maneira de roqueiros famosos. Seu desaparecimento precoce o bafejaria com a aura de gênio rebelde dos pincéis.
Que as multidões e os cifrões associados a Basquiat são tão profusos quanto os dreadlocks de seus cabelos, não há dúvida. Em maio do ano passado, um quadro seu foi vendido por 110,5 milhões de dólares, o maior valor já alcançado num leilão de arte nos Estados Unidos. A mostra nacional provocou uma inédita queda de braço entre instituições paulistanas: o Masp planejava havia tempos uma grande exposição do artista, mas desistiu quando o CCBB, de surpresa, anunciou que abriria antes a sua, com mais de oitenta trabalhos pertencentes ao colecionador israelense Jose Mugrabi. O custo da exposição, que passará ainda por Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, está na casa dos 15 milhões de reais (na maior parte, vindos de leis de incentivo). “Hoje, é possível dizer que Basquiat não foi só uma moda. Ou, pelo menos, é uma moda que está durando”, afirma o curador Pieter Tjabbes.
O glamour marginal de Basquiat tem certo lastro na realidade, mas também pitadas de romantização. Filho de mãe de ascendência porto-riquenha e pai haitiano, ele foi o primeiro pintor negro a entrar para a elite do ofício. Não vinha, contudo, da pobreza: o pai era um contador remediado, o que permitiu ao jovem Basquiat frequentar boa escola e formar um notável acervo de discos, livros e gibis. Se morou nas ruas por uns tempos, foi pela decisão de fugir de casa para curtir uma vida regada a drogas e rock’n’roll. Rufar tambores para dizer que Basquiat foi o primeiro grafiteiro a firmar seu talento na arte estabelecida é distorcer os fatos. Ele não fazia propriamente grafite: em parceria com um amigo, passou coisa de um ano pintando frases em muros de Nova York, sob a assinatura SAMO (numa tradução limpinha, “sempre a mesma porcaria”). Na primeira oportunidade, migrou para a pintura e renegou a condição de grafiteiro. Desde cedo, Basquiat transbordava ambição. “Ele dizia ao pai que um dia seria famoso”, conta o curador Tjabbes.
Assine agora o site para ler na íntegra esta reportagem e tenha acesso a todas as edições de VEJA:
Ou adquira a edição desta semana para iOS e Android.
Aproveite: todas as edições de VEJA Digital por 1 mês grátis no Go Read.