Uma arma de potencial avassalador, vilões gananciosos, autoridades corruptas, cenários impressionantes e cenas de ação elaboradas são elementos comuns aos filmes de espionagem, fórmula estabelecida no cinema especialmente pela longa saga de James Bond. Foi também o famoso 007 quem impôs a presença feminina limitada ao sensual, e muitas vezes usada como isca pelos vilões, atraindo o garanhão com um fraco para mulheres. Tal estereótipo vem sendo minado por Hollywood, mas num ritmo um tanto vagaroso – tão devagar, aliás, que o filme As Agentes 355 chega aos cinemas nesta quinta-feira, 20, como um exemplar raro do protagonismo feminino nas tramas de espionagem capaz de ir além de beldades sedutoras.
Convenhamos, claro, que o filme também tem sua cota de beldades — afinal, o estereótipo do espião bonitão é parte do apelo do gênero. Protagonizado por Jessica Chastain e com elenco reforçado por Penélope Cruz, Lupita Nyong’o, Diane Kruger e Bingbing Fan, o longa não reinventa a roda, seguindo o passo a passo do filão, porém destoa dos demais por trazer cinco mulheres de nacionalidades distintas e habilidades variadas no centro da ação. Terroristas possuem uma arma tecnológica letal, capaz de entrar em qualquer sistema do mundo, entre eles o controle de aviões, por exemplo. Aqui, as beldades não servem como alívio cômico ou enfeite de cena — todas possuem arcos dramáticos e funções dentro do desenrolar da ação.
Jessica interpreta uma agente da CIA que se depara no caminho da missão com a personagem de Diane, do serviço secreto alemão. Ambas são mulheres ariscas, solitárias e letais. Quase sem querer, a psicóloga da agência colombiana, sem treinamento especial, vivida por Penélope, acaba se envolvendo com o grupo, que recruta ainda a cientista da computação e ex-MI6 interpretada por Lupita. As duas se contrapõem às colegas por ter laços familiares que complementam a trama: uma tem filhos e marido lá na Colômbia; a outra, um noivo na Inglaterra. Envolvimentos emocionais são complexos para pessoas com profissões de risco, mas poucos filmes exploram esse drama pela visão da maternidade. Fechando o time, a chinesa Bingbing surge como uma surpresa na segunda metade do filme.
O nome As Agentes 355 foi inspirado na história real de uma espiã da Revolução Americana, no século XVIII, de identidade desconhecida e chamada pelo número em questão. Por ser uma mulher, a espiã 355 passava despercebida em um mundo masculino. Não é o caso das agentes da trama do século XXI, que definitivamente chamam mais a atenção. Cenas densas de luta, tiroteios e perseguições se mesclam a sentimentos como a dor da traição, a solidão provocada pelo ofício e o medo de perder um ente querido. Um exemplar no mínimo curioso para um gênero do cinema embalado por tiros, pancadas e bombas.