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A vida dupla de Graham Greene e companhia

Livro com arquivos do MI6, o serviço secreto britânico, revela que escritores e filósofos trabalharam como espiões para o governo de Sua Majestade

Por La Vanguardia
23 set 2010, 16h39

A teoria é que os espiões são no fundo homens e mulheres normais com acesso a informação, nada a ver com os superdotados de ambos os sexos dos filmes de James Bond

Até agora se tratava de um segredo, nunca confirmado, mas que excitava muitos intelectuais e amantes da literatura: Graham Greene, Somerset Maugham e alguns outros gigantes da literatura britânica do século 20 tiveram uma vida dupla, como nos jogos atuais da internet, em que trabalharam como espiões. Pois bem, agora os próprios serviços de inteligência admitiram o fato.

Faltava uma biografia autorizada do MI6 – a CIA do Reino Unido – para cuja publicação o historiador Keith Jeffrey teve acesso sem precedentes a milhares de documentos desde a fundação da agência, no começo do século 20 (1919), até sua reestruturação quarenta anos depois, no fim da Segunda Guerra Mundial. E, claro, com um montão de carimbos de Top Secret e até mesmo páginas inteiras pintadas com tinta preta.

Pouca gente sabe dessas coisas, e alguém fica com vontade de mergulhar nos jogos duplos e triplos da Guerra Fria, o intercâmbio de funcionários na Berlim dividida, o conflito do Canal de Suez, a criação de Israel, as conflagrações no Oriente Médio, os assassinatos dos irmãos Kennedy e de Martin Luther King, a invasão soviética do Afeganistão, o desmoronamento da União Soviética, a queda do Muro de Berlim, a crise dos reféns no Irã, os Balcãs, Kosovo, o 11 de Setembro, os atentados de Londres e Madri, o Iraque e as armas nucleares inexistentes de Sadam Hussein, todos os segredos que terão de ficar para outro livro, para daqui a muito tempo.

Por enquanto, e dado o mistério que rodeia as atividades de espionagem em todo o mundo, já é muito confessar que os escritores Graham Greene, Somerset Maugham, Compton Mackenzie e Malcolm Mudderidge, além do filósofo A. J. Freddie, estiveram a soldo do MI6 e espionaram para a Grã-Bretanha na Segunda Guerra Mundial e seus arredores, aproveitando seu status internacional, a possibilidade que tinham de viajar pelo continente europeu e de ter conversas profundas sobre o que estava ocorrendo sem despertar suspeitas. Escritores e jornalistas são curiosos por natureza.

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A teoria é que os espiões são no fundo homens e mulheres normais com acesso a informação, nada a ver com os superdotados de ambos os sexos dos filmes de James Bond, que recebiam seu treinamento básico no uso de armas de fogo e venenos, mas sobretudo códigos cifrados para o envio de mensagens, e sem licença para matar a não ser em legítima defesa. Isso se encaixa perfeitamente na atual campanha do MI6 para recrutar agentes (eles dizem patriotas) entre a comunidade muçulmana do Reino Unido, para saber o que acontece nos bairros paquistaneses, de onde saíram terroristas, e poder desmantelar os supostos atentados antes que ocorram, sim fazer ridículo como na detenção de meia dezena de inocentes varredores de Westminster por ocasião da visita do papa a Londres.

Mas o livro vai além, e conta como Claude Dansey, um dos primeiros chefes da organização, era um homossexual que dividiu amantes com Oscar Wilde, ou que a namorada do maior responsável em Lisboa de espionagem militar alemã (Abwehr) durante a Segunda Guerra Mundial era uma agente britânica que atendia pelo código de Eclesiástica, e forneceu importantíssimos segredos, sob a supervisão do pai do ator Peter Ustinov. Também conta a história de Pieter Tazelaar, lançado pelo MI6 em uma praia holandesa perto do cassino de Scheveningnen vestido de fraque e fedendo a álcool. E a de Wilfrid Dunderdale, de quem se acredita que inspirou Ian Fleming para o personagem de 007, um oficial naval “de extraordinário encanto para as mulheres e apaixonado pelo gin-tônica e carros de corrida” que operava na Paris ocupada.

A história oficial do MI6 nega todo tipo de responsabilidade no assassinato de Rasputin em São Petersburgo, e seu autor, surpreendentemente, não encontrou nenhum documento relativo à perseguição dos judeus por Hitler e seus planos para a solução final. Em troca, admite o enorme estrago que causou o agente duplo soviético Kim Philby, em quem os serviços de espionagem britânicos confiaram cegamente até que fosse tarde demais.

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