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A epifania de Ivana diante do espelho: ‘Eu (me) entendi’

Conclusão da virada da personagem de ‘A Força do Querer’ é apressada e artificial, mas culmina em cena delicada em que sobressai alívio de se compreender

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 18h16 - Publicado em 28 jul 2017, 09h42
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  • Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. O verso de Dom de Iludir, de Caetano Veloso, enfim vai fazer sentido para Ivana (Carol Duarte), a personagem que atravessou os primeiros cem capítulos de A Força do Querer com um constante mal-estar, alimentado por um sentimento de inadequação ao mundo. Nesta quinta-feira, Ivana completou a sua guinada no folhetim de Gloria Perez, iniciada na última terça-feira ao chegar ao limite – embora ela própria não o enxergasse – na primeira experiência sexual, com o então namorado, Claudio (Gabriel Stauffer). Alguma coisa se rompeu em Ivana, que só soube dizer para Claudio que não podia mais seguir com ele. O garoto embarcou para os Estados Unidos sozinho, ao contrário do que havia combinado com a namorada, e ela foi para um bar, onde encontrou seu reflexo no transgênero real Tereza (hoje Tarso) Brant. O capítulo terminou com Ivana diante do espelho do quarto – o mesmo que refletiu a cena em que a menina socou os próprios seios, parte do corpo que não consegue aceitar –, desta vez para um encontro com ela mesma. “Eu entendi”, disse, entre a dor e o riso, no momento mais delicado do episódio.

    A cena, no entanto, foi antecedida por uma sequência que pecou pela artificialidade. Depois de ter as malas feitas pela empregada para embarcar com Claudio para San Francisco (EUA), Ivana sai de casa sem nada e vai direto para um bar, onde conhece Tereza, que já conta a história nos primeiros minutos de conversa, como se fosse a coisa mais trivial do mundo.

    – Oi, prazer, eu sou Tereza.

    – Cara, hoje eu não tô pra piada, não, não tô pra gracinha, não, responde Ivana irritada.

    – Eu sei que parece brincadeira, mas meu nome é Tereza, mesmo.

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    – Tereza? Pfff… E o meu é Rogéria.

    – Essa barba aqui confunde, né? Mas foi o nome que a minha mãe me deu. Daí, eu não tive coragem de trocar.

    – E que mãe dá o nome para um menino de Tereza?

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    – É uma longa história… Eu nasci menina, em um corpo feminino, só que eu não me sentia menina, entende?

    Assim, de bate-pronto, Brant despeja toda a sua história sobre Ivana. Incitado pela amiga Anita (Lua Blanco), mostra uma foto da infância, em que era uma menininha de cabelos compridos, diz que não se reconhecia no corpo que tinha, e que rejeitava especialmente os seios, cobertos por uma faixa, exatamente como faz Ivana — que logo se conecta com Brant, que será seu guia na transição para o gênero masculino.

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    O jorro narrativo acelerou a virada da personagem, que, depois de travar contato com um transgênero, algo que ela nem sequer sabia que existia, foi para casa pesquisar na internet, e passou a noite assistindo a vídeos de garotas que se descobriram garotos e passaram a injetar hormônio para fazer a transição – o que Ivana começará a fazer nos próximos capítulos, escondida da família.

    O bate-pronto pode ter acelerado a história, que segue num agradável ritmo de série. Mas soou pouco natural – para não dizer artificial. Ao menos, a guinada foi fechada pela epifania de Ivana. Que sorriu para si mesma diante do mesmo espelho onde já se agrediu.

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