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A ditadura da vaidade de Roberto Carlos

Quem é o maior censor do Brasil? Esse cara sou eu, diria o cantor que tenta vetar a circulação de um livro pela terceira vez

Por Carlos Graieb 25 abr 2013, 18h11
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  • Na última década, houve uma grande operação para salvar Roberto Carlos da pecha de brega. Começou com Caetano Veloso, sempre ávido por encontrar um valor oculto na música não popular, mas popularesca, e continuou com roqueiros e outros artistas jovens gravando tributos e prestando homenagens ao cantor, alçado novamente à condição de “bacana”. Bem, estavam todos errados. Roberto Carlos é mesmo o suprassumo do brega. Não pelo cabelo, não pelo jeito de cantar, não pela pieguice de sua música – mas pelos pecados bem mais graves da mesquinharia, da truculência e do autoritarismo.

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    Pela terceira vez, Roberto Carlos foi à Justiça impedir a circulação de um livro. A historiadora Maíra Zimmermann ousou citar o músico em sua dissertação de mestrado sobre a influência da Jovem Guarda no comportamento e no consumo adolescente – sem pedir a autorização daquele que se vale do apelido de “rei” da música nacional. Não deu outra: o grande censor voltou a agir, à revelia de colegas como Wanderlea, que elogia o trabalho de Maíra na contra-capa de Jovem Guarda: Moda, Música e Juventude, mostrando que, em vez de “rei”, Roberto Carlos é mesmo um ditador.

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    Em uma notificação extrajudicial emitida por seu advogado, Marco Antonio Bezerra Campos, o músico exige a retirada do título das lojas por conter informações sobre a sua vida pessoal em passagens que o colocam como líder do chamado iê-iê-iê, nos anos 1960. Depois, o advogado deixou escapar que, na verdade, Roberto Carlos estrilou com a ilustração da capa do livro, uma caricatura em que aparece ao lado de Ternurinha e Erasmo Carlos, e com o fato de não ter sido consultado pela pesquisadora.

    Esse traço autoritário vem de longa data. Não se está falando das suas constrangedoras – e desnecessárias – saudações ao ditador chileno Augusto Pinochet num festival musical, nem de seu possível apoio à repressão no Brasil, como sugerem documentos confidenciais do Centro de Informações do Exército revelados recentemente. Esses são assuntos para um historiador, quem sabe, analisar no futuro.

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    Trata-se do fato de que em 1979 Roberto Carlos mandou tirar das livrarias as memórias de seu ex-mordomo, Nichollas Mariano, intituladas O Rei e Eu. E de que mais recentemente, em 2006, a editora Planeta teve de se desfazer dos mais de 10.000 exemplares que restavam em seu depósito do título Roberto Carlos em Detalhes, uma biografia feita com esmero durante anos por um fã, o historiador Paulo César de Araújo.

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    É verdade que o pedido do autor para que a biografia fosse tirada das lojas encontra respaldo na lei – mais precisamente, num artigo do Código Civil sobre direito à imagem – e por essa razão foi acolhido pela Justiça. Mas isso não invalida o ponto de partida: Roberto Carlos é o artista que pôs a engrenagem do Judiciário em movimento para impedir as ideias de circular no país. O que poderia ser mais brega?

    Documento do exército aponta Roberto Carlos como colaborador da ditadura militar
    Documento do exército aponta Roberto Carlos como colaborador da ditadura militar (VEJA)
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