Das passarelas aos tapetes vermelhos, do ambiente corporativo aos looks de street style, as meias-calças são as peças que prometem quebrar a sisudez do inverno de 2022. Fazia tempo que elas não apareciam em tantas versões. Além das pretinhas básicas, há uma invasão de meias coloridas, com texturas, aplicações, desenhos, pedrinhas, rasgadas, recortadas e até a volta da arrastão, amada por umas e odiada por outras. É só escolher como e quando usar. “Se vestidas no momento certo, na roupa certa e nas pernas certas, elas têm o poder de levantar qualquer look”, diz o estilista Lino Villaventura, que abriu seu desfile na São Paulo Fashion Week, na sexta-feira 3, com um visual composto de uma meia-calça na mesma estampa de fogo de um vestido feito para provocar uma reflexão sobre os incêndios na Amazônia e o aquecimento global. Em sua estreia no principal evento de moda do país, a grife Bold Strap também elevou a temperatura vestindo a atriz Camila Queiroz com uma meia-calça recortada em tom fetichista, típico das coleções da marca.
O que mais conta nas novas peças é a versatilidade: não só os fios, finos ou grossos, mas as versões texturizadas, com cores fora do leque tradicional e enfeitadas, que oferecem diversas possibilidades de combinação. Das mais básicas às peças arrastão, como as apresentadas pela Chanel, passando ainda pelas hipercoloridas da Gucci e Lanvin e por uma versão fake (por dentro é lã, mas por fora o tecido imita uma fio 15), deixarão a estação mais divertida — nada mau depois de dois anos tão tensos, mergulhados no cinza sem graça da pandemia.
Ressalve-se que nem sempre as meias-calças brilharam em passarelas. Originadas do guarda-roupa masculino, não tinham apelo de moda. Tampouco de aquecer. Durante séculos, foram utilizadas como marcas de distinção social: enquanto a nobreza usava as de seda, os pobres serviam-se de meias de algodão. De qualquer forma, eram pouco práticas pela falta de elasticidade, o que obrigava homens e mulheres a lançar mão de ligas para segurá-las. No século XIX, durante a Revolução Industrial (1760-1840), ficaram mais longas e acessíveis, sendo feitas apenas para as mulheres. Não demorou para que as pernas femininas passassem a ser pontos de desejo potencializados pelas meias que, inclusive, se tornaram itens de fetiche em modelos de renda e as polêmicas arrastão.
Foi só na década de 60 que elas finalmente viraram acessórios de moda nas mãos de Pierre Cardin, Mary Quant e André Courrèges, combinadas a minissaias. Dez anos depois, surgiram rasgadas e recortadas como sinônimo de rebeldia, popularizando-se no movimento punk. Os anos 1980 deram espaço aos modelos mais finos sob saias de alfaiataria, adotados em ambiente de trabalho. Na década de 90 surgiram em ousadas versões coloridas criadas por Dolce&Gabbana e Gianni Versace. É uma fascinante peça afeita a contar a história da civilização.
Publicado em VEJA de 15 de junho de 2022, edição nº 2793