São Paulo Fashion Week, dezembro de 2022. Fashionistas e pessoas importantes do universo da moda em peso aguardavam ansiosamente por um desfile que seria o mais importante do ano: o momento em que Alexandre Herchcovitch lança sua coleção de retomada da marca Herchcovitch; Alexandre oito anos após a venda em um acordo milionário em 2016. Nos bastidores, todos os passos do estilista, um dos mais importantes da moda brasileira, assim como sua expectativa, emoção e tensão eram acompanhados de perto pelo diretor Rafael Barioni, para o documentário HERCHCOVITCH; EXPOSTO, lançado nesta terça-feira 25, na HBO e na plataforma Max.
“Estou emocionado e honrado. Este filme não é apenas uma retrospectiva da minha trajetória na moda, mas também uma celebração das pessoas e histórias que moldaram a marca Herchcovitch; Alexandre ao longo dos anos. Retomar o controle da minha marca é uma oportunidade única de renovar nossa visão e compromisso com a inovação e a autenticidade”, disse Herchcovitch a VEJA.
Sucesso e Desafios
Não se trata, porém, de um simples registro do desfile ou um retorno ao mundo da moda. Tampouco é apenas uma obra biográfica. Como o próprio nome sugere, o documentário expõe a brilhante carreira do estilista e sua trajetória no cenário underground paulistano, mas também como a cultura e a história da grife foram abandonadas pelos novos compradores da grife, que ao assumirem, demitiram antigos funcionários, incluindo Regina Herchcovitch, mãe e coração de todo o negócio do estilista, além de mudarem métodos de trabalho e referências da marca.
Mostra ainda o novo desafio de Herchcovitch em olhar para o futuro e voltar a inspirar a moda com sua criatividade única em um universo completamente diferente do que o consagrou, invadido por coleções cada vez mais comerciais, efêmeras e baratas, mas ao mesmo tempo, pautado por temas importantes como a sustentabilidade, a diversidade e a inclusão social.
“Desejo que o documentário inspire todos a seguirem seus sonhos com paixão e perseverança, assim como eu fui inspirado a fazer, através da minha mãe, Regina, e pela vibrante cena underground paulistana onde tudo começou. Espero que todos que assistam ao documentário se sintam inspirados pela moda brasileira e reconheçam seu valor como uma expressão artística rica e diversificada em nosso país”, refletiu o estilista, que em meio ao processo de retomada, ainda celebra seus 30 anos de carreira com a mostra “Alexandre Herchcovitch: 30 anos além da moda”, com quase 200 obras expostas no Museu Judaico de São Paulo.
30 anos e além
Filho de imigrantes judeus de segunda geração, Alexandre Herchcovitch descobriu cedo sua paixão por moda, graças à mãe Regina Herchcovitch, que dona de uma confecção de lingeries, foi musa de suas primeiras criações. Em 1986, ainda adolescente, desenhou uma caveira, inspirada em imagens de livros de anatomia, que virou sua primeira logomarca e a estampa mais emblemática de sua criação. Participou das principais semanas de moda de São Paulo, Rio de Janeiro, Londres, Paris e Nova York; e vestiu personalidades como a estrela islandesa Björk e a atriz estadunidense Scarlett Johansson, além de grandes modelos como Gisele Bündchen, Caroline Ribeiro e Fernanda Tavares, ícones da moda internacional nos anos 1990 e 2000.
Em 2016, vendeu a marca que leva seu nome para o grupo InBrands. “Eu vendi a marca, mas não vendi o meu cérebro, não vendi a minha inteligência. Existem coisas que permanecem na pessoa. Continuei sendo estilista, só que sem o uso daquela marca”, disse, em entrevista a VEJA. Seis anos depois, retomou a grife que fundou e agora é merecidamente festejada pelo documentário da HBO. “Acho que sou o primeiro caso de um estilista a voltar para a própria marca depois de a ter vendido no Brasil. Isso tem uma força grande.”