O estilo é antigo – atravessou o oceano junto com colonizadores que passaram pelo Brasil e que, posteriormente, ficaram por aqui. Trata-se da azulejaria – mais especificamente aqueles azulejos tradicionais azuis e brancos, que tiveram seus primeiros painéis vindos da Holanda (de onde os portugueses aprenderam a apreciá-los) e, pouco depois, no final do século 17, encomendados das oficinas de Portugal para decorar as igrejas da Bahia. Agora, estão de volta na arte, na arquitetura, no design e até em coleções de moda.
Expressão Modernista
Entre as décadas de 1930 e 1940, os azulejos foram parte importante da visualidade da arquitetura modernista brasileira. Candido Portinari (1903 – 1962), por exemplo, teve seus icônicos painéis Conchas e Hipocampos e Estrelas-do-mar e Peixes, feitos para o Palácio Capanema no Rio, em 1941, considerados uma de suas obras mais importantes. Djanira da Motta e Silva (1914 – 1979) foi outra que se destacou com a azulejaria, ao misturá-la a elementos da cultura brasileira, das paisagens ao folclore, em sua obra.
O escultor Athos Bulcão (1918-2008) também é um nome expressivo dessa arte, já que integrava azulejos em espaços públicos e edifícios, inclusive em colaborações com Oscar Niemeyer – o emblemático painel feito em 1988 para o Memorial da América Latina, e que agora pertence à Galeria Herança Cultural.
“O nosso interesse nos azulejos de Athos Bulcão conecta com o seu significado histórico e cultural, assim como a busca de colecionadores por este trabalho. Os azulejos permanecem como estética e influência na arquitetura, nas artes e no mobiliário”, diz Pablo Casas, diretor da galeria.
Da Tradição à Modernidade
Hoje, os azulejos ainda resistem ao tempo. Não só nas paredes de museus e centros culturais, mas nas ruas, em projetos de arquitetura, em obras de arte e na moda, graças à constante reinvenção de estilistas, arquitetos e designers, que evoluem suas técnicas para refletir novos contextos e visões criativas.
Artistas como os Irmãos Campana, que no ano passado, inauguraram uma belíssima instalação com 1,8 mil azulejos pintados à mão para o prédio da JFL Living, em São Paulo, é um exemplo disso. Adriana Varejão também, tanto que até domingo 13, está com 10 trabalhos de seu acervo e uma vitrine que inclui sua pesquisa sobre os azulejos na Frieze Master, em Londres.
No mobiliário, um desenho de Ricardo van Steen para Mobilia Tempo em um buffet em cerâmica e aço patinado anda chamando a atenção, já que remete diretamente à arquitetura modernista, mas de forma completamente reinventada. Suas lajotas conversam com o mundo fantástico de Brennand e reinterpretam a técnica da azulejaria.
“Grandes nomes da arte brasileira trabalharam ou trabalham sobre o suporte da cerâmica e da azulejaria”, afirma Ricardo van Steen. “Viajando pela Europa há alguns anos notei, nas feiras de antiguidades, muitas peças dos anos 1960, 1970 e 1980 que tinham a cerâmica artesanal como elemento de destaque. Era a mesma época em que o Francisco Brennand produzia as suas invenções por aqui. Não sei direito quem influenciou quem, o fato é que eu acabei começando a estudar por aqui maneiras de pensar mobília hoje com esse recurso”, conta.
Azulejo Fashion
Na moda, a azulejaria também está presente. Na última temporada internacional, a Dior colocou a padronagem em sua coleção de verão 2025 masculina. A Versace também apostou em um conceito estilizado e, no Brasil, tanto a Etro como a D-Gaia, de Daniela Setúbal, fizeram um passeio pelo tema, com inspirações em murais e painéis de azulejos da era barroca e moderna.
“Busquei os azulejos portugueses pela estética, os painéis pintados, os padrões e motivos com o uso do azul, que representa essa mistura de influências e reflete um senso de artesanato e arte”, explica Eduardo Pombal, diretor criativo da D-Gaia.
Enfim, sejam em painéis de grande porte que transformam espaços, em móveis que combinam funcionalidade com expressão artística ou em peças de arte ou de moda, os azulejos continuam sendo um meio dinâmico e influente no design contemporâneo.