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Sidra ganha versões brasileiras e abre promissora frente de negócios

Popular na Europa e nos Estados Unidos, a bebida à base de maçã conquista o paladar dos consumidores

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h48 - Publicado em 5 fev 2023, 08h00
ELEGÂNCIA - Pronta para beber: complexidade de sabores é apreciada no mundo, mas desconhecida no Brasil -
ELEGÂNCIA – Pronta para beber: complexidade de sabores é apreciada no mundo, mas desconhecida no Brasil – (iStock/Getty Images)

Criada no auge do Império Romano, a sidra, bebida alcoólica fermentada de maçã, tem rica e longa tradição na Europa. Os romanos disseminaram o gosto pelo líquido por diversas partes do continente, especialmente a Alemanha e a Bélgica. Ele também encontrou terreno fértil na França, onde até hoje é produzido, sobretudo na Normandia, mas ainda em regiões de grande tradição vitivinícola, como Champagne. A sidra é igualmente apreciada pelos britânicos, que a levaram para os Estados Unidos. Lá, começou a ser produzida pelos primeiros colonos e, nas últimas décadas, passou por uma revolução semelhante à que ocorreu com as cervejas. Hoje, é possível encontrar enorme variedade de rótulos nesses países, com as mais diversas características. Embora seja uma bebida refrescante, que tem muito a ver com o clima de diversas regiões do Brasil, a sidra nunca vingou em solo nacional. Até agora. O crescente interesse do público acostumado às cervejas artesanais tem feito com que fabricantes apostem em receitas que ganharam a adição de sabores tropicais.

As novidades mais recentes que chegaram às prateleiras são produzidas pela cervejaria Dádiva, conhecida pelas IPAs frescas e pelas cervejas ácidas com adição de frutas. São três rótulos, vendidos em latinhas, que levam, além de maçã, ingredientes como laranja, limão, framboesa, hortelã e manjericão. “Já fazemos sidra há quatro anos, mas as versões anteriores eram envelhecidas em barricas e levavam lúpulo, portanto muito voltadas ao público cervejeiro”, afirma Luiza Tolosa, sócia-fundadora da Dádiva. “Agora, preferimos sidras mais leves, que podem ser tomadas com gelo, como elas são consumidas na Inglaterra”, diz ela.

Não se trata de um projeto único. Outras cervejarias também lançaram rótulos de sidra, geralmente como edições especiais. Por ocupar um espaço entre a cerveja e o vinho, a bebida também vem despertando a atenção de vinícolas. É o caso da Vivente, famosa pelos produtos de baixa intervenção (leia o quadro), que criou algumas versões de seu fermentado de maçã. Ou então de empresas que produzem uma variedade maior de alcoólicos, como a Companhia dos Fermentados. Além de sidras tradicionais, a empresa vem explorando as possibilidades oferecidas por outras frutas, como o cacau, a carambola e a jabuticaba. “Começamos produzindo uma versão de maçã para suprir uma necessidade pessoal de tomar uma bebida genuína, mas passamos a olhar para a maior biodiversidade do planeta e entender o que poderíamos fazer”, conta Fernando Goldenstein Carvalhaes, um dos fundadores da Companhia dos Fermentados. Pela legislação brasileira, uma bebida só pode ser chamada de sidra se tiver a maçã como principal ingrediente. Na França, é comum encontrar versões à base de pera. Por isso, seus rótulos são classificados como borbulhantes, uma referência à carbonatação natural decorrente do processo de fermentação.

arte sidra

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O mercado está aberto a inovações, com seções dedicadas às sidras em grandes lojas cervejeiras do Brasil, mas ainda há espaço para evoluir. Produzir sidra no país é tarefa difícil. Empresas que se dedicavam apenas à bebida fecharam as portas após um período curto de atuação. Mesmo no caso das cervejarias, os lotes são feitos de forma limitada, como teste da receptividade do público. Parte disso se deve principalmente à falta de variedade de matéria-prima. Nos Estados Unidos, existem rótulos feitos com cinco ou mais variedades de maçã, de um total de mais de 300 produzidas no país.

Embora o Brasil seja um dos maiores produtores de maçã no mundo, há pouca diversidade nas lavouras, que se concentram nas espécies fuji e gala. Além disso, nota-se certo preconceito com a sidra mais conhecida no mercado nacional, uma bebida doce, em geral de qualidade baixa. “As pessoas se assustam com as versões tradicionais, muito mais secas, sem aromas artificiais de maçã”, diz Carvalhaes. Construir um mercado é um processo longo, mas que vem ganhando adeptos. Aqueles que se dispõem a provar as sidras brasileiras são recompensados com uma bebida complexa e refrescante.

Publicado em VEJA de 8 de fevereiro de 2023, edição nº 2827

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