Em um leilão amplamente esperado e antecipado, a Sotheby’s de Hong Kong vai colocar à venda em dezembro o Canário Dourado, um esplêndido diamante de 303,10 quilates. Calcula-se que a pedra, uma das mais perfeitas do mundo, alcance no mínimo 15 milhões de dólares. O fascínio por gemas como o Canário Dourado segue inabalável, mas neste século XXI os diamantes naturais, os melhores amigos das mulheres na canção imortalizada por Marilyn Monroe em Os Homens Preferem as Loiras, encaram a competição de peças idênticas, só que criadas em laboratório.
Assim como os originais, os diamantes artificiais são feitos de átomos de carbono submetidos a alta pressão e temperatura e passam com louvor nos testes de lapidação, peso, pureza e cor realizados por órgãos especializados. A vantagem do processo, semelhante ao da natureza, é que as pedras não seguem a tortuosa rota de trabalho escravo, lutas de gangues e contrabando comum aos “diamantes de sangue” e exibida no filme do mesmo nome. Também estão livres dos imensos danos que a mineração geralmente causa ao meio ambiente. E, por serem sintetizados pelo homem, em vez de procurados com afinco e encontrados sob terra e rocha, seus preços são em média 30% a 50% mais em conta.
As grandes joalherias inicialmente torceram o nariz para a novidade e criaram mecanismos para identificar rapidamente as diferenças, mas aos poucos vão se adaptando aos novos tempos. Neste ano, o conglomerado de luxo LVMH investiu 90 milhões de dólares em uma fábrica de pedras cultivadas em Israel. A Tag Heuer, por sua vez, lançou em abril seu primeiro relógio coberto com os diamantes artificiais. “Essa inovação inaugura uma longa história ainda por ser criada”, antecipou Frédéric Arnault, CEO da empresa e filho de Bernard Arnault, o dono da LVMH. A produção, concentrada na China e Índia, não passou de 7 milhões de quilates em 2020, mas deve alcançar 19 milhões em dez anos. Em nome da sustentabilidade, celebridades como Lady Gaga e Zoë Kravitz já desfilaram gargantilhas de diamante artificial em tapetes vermelhos. No Brasil, poucas joalherias trabalham com a pedra, entre elas a Gaem e a Tantum. “É um item de luxo com valor mais acessível”, diz Claudio Hanisch, da Tantum, que antecipa alta de venda de 30% em 2023. A olho nu, é duro distinguir o que é o que nesse brilhante universo.
Publicado em VEJA de 30 de novembro de 2022, edição nº 2817