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Mercado de luxo para pets está em alta, mas é bom para os bichos?

A indústria se tornou monumental. Mimos, no entanto, podem ser inconvenientes e insalubres

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 16 jul 2022, 08h00

A convivência de cães conosco, seres humanos, tem pelo menos pouco mais de 14 000 anos de existência, quando começaram a ser domesticados. Fiéis amigos, adoráveis e protetores, viraram paixão indelével. Diz a lenda que o rei Carlos II da Inglaterra, no século XVII, estava num barco com membros de sua corte e alguns cachorros. Quando a embarcação começou a afundar, o monarca teria exclamado: “Esqueçam o duque de Buckin­gham, salvem os spaniels”. E assim foi na aventura da civilização. Os bichos deixaram de ser coisa apenas de gente de sangue azul, invadiram as cidades com o processo de urbanização e cuidar deles com zelo virou uma monumental indústria.

O mercado global de pets — gatos incluídos, é claro — deve chegar a 261 bilhões de dólares em 2022, com taxa de crescimento anual de 6%. No Brasil, o faturamento em 2021 foi de 52 bilhões de reais, em expansão de 27% em relação ao ano anterior. Há hoje pelo menos 140 milhões de animais de estimação nos lares brasileiros — quatro vezes mais que o número de crianças de até 12 anos de idade. As cifras, multiplicadas no período da pandemia, não demoraram a chamar a atenção para um naco da economia, o das grifes de luxo. Estima-se que até 2023 esse segmento nobre de cuidados atinja 29 bilhões de reais anuais.

VISUAL ROQUEIRO - Com a jaqueta da Moschino: risco de engolir as tachas -
VISUAL ROQUEIRO - Com a jaqueta da Moschino: risco de engolir as tachas – (Moschino/.)

O que se vê por aí, agora, são cães tratados como os spaniels de Carlos II. Uma coleira da marca Versace sai por 7 000 reais. A jaqueta Moschino, por 4 200 reais. Uma roupinha da Louis Vuitton: 19 300 reais. A Gucci acaba de apresentar sua primeira coleção para animais de estimação. Lançada no começo de julho, traz roupas e coleiras, além de bowls para ração, bolsa de viagem (de 21 000 reais!), camas e um sofá em miniatura, todos estampados com o monograma da marca italiana. Diz a peça de divulgação: “do doce ao durão, do alegre ao mal-humorado, as misturas exclusivas de prêt-à-porter, acessórios e objetos de decoração da nova coleção Gucci Pet amplificam as personalidades de cada cão e gato”.

A ninguém coube a ideia de pensar nos próprios bichinhos. O americano John Grogan, autor de um clássico instantâneo, Marley & Eu, de 2005, já tinha dado a deixa: “Para um cão, você não precisa de carrões, de casas grandes ou roupas de marca. Símbolos de status não significavam nada para ele”. Do ponto de vista prático não faz sentido vestir cachorros como quem sai flanando pela Champs-Élysées. Há risco, por exemplo, de engolirem tachas de coleiras extravagantes. Peças com gola e capuz podem até asfixiar os animais, ansiosos para retirá-­las. E há ainda quem desfile com carrinhos de transporte de cães que emulam os de bebês. “Os carrinhos são indicados apenas para os bichos que têm alguma doença ou necessidade especial”, diz o veterinário Leandro Alves, membro da Sociedade Paulista de Medicina Veterinária (SPMV). As grifes se defendem, dizendo que usam apenas materiais de primeira qualidade e com acompanhamento rigoroso.

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OSTENTAÇÃO - O galgo italiano Plínio ao lado de Anitta: conta no Instagram com mais de 250 000 seguidores -
OSTENTAÇÃO - O galgo italiano Plínio ao lado de Anitta: conta no Instagram com mais de 250 000 seguidores – (@pliniotheboss/Instagram)

Louve-se o cuidado, mas ele não impede situações um tanto insólitas. Há cerimônias de casamento nas quais os casais fazem questão da presença de seus bichos de estimação, muitas vezes para levar as alianças até o altar. É bonitinho? É. Precisaria ser assim? Não. “Eles são os filhos de quatro patas”, diz Xu Tognato, designer, que ao lado da irmã Karen preside a grife de noivas Atelieria Bridal & Wedding, que há cerca de um ano cria acessórios para pets participarem de casamentos. “Mas não usamos nada que os deixe desconfortáveis ou que possa machucar, como barbatanas, por exemplo. É tudo sob medida.”

A ideia, ao que parece, é fazer dos companheiros de coleira plataforma de sucesso dos donos, atalho para ostentação. O dócil e elegante galgo italiano Plínio, da cantora Anitta, tem até conta no Instagram. Ele já apareceu com uma coleira Moschino de 5 000 reais e um comedouro de quase 1 000 reais. Plínio tem mais de 250 000 seguidores nas redes sociais. Um pouco mais de bom senso seria adequado, porque o que parece bom pra cachorro nem sempre é.

Publicado em VEJA de 20 de julho de 2022, edição nº 2798

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