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Livro revela as transformações da velhice masculina ao longo da história

Colunista de VEJA, Valmir Moratelli colheu depoimentos de mais de 200 pessoas acima dos 60 anos para decifrar como vêm atravessando tal etapa

Por Duda Monteiro de Barros Atualizado em 4 jun 2024, 09h48 - Publicado em 29 set 2023, 06h00

Uma viagem pela história da humanidade, dos sumérios, lá pelos anos 2 700 a.C., até os dias de hoje, mostra quanto a velhice masculina vem sendo percebida sob os mais diferentes ângulos. Os idosos eram tão valorizados na Grécia Antiga que foram eles os criadores de leis no Senado, onde se fincaram as primeiras estacas da democracia, um conceito que sobreviveu a todas as eras. No Renascimento, sob o reflorescer das artes e das ciências, Leonardo da Vinci (1452-1519) escolheu um corpo centenário para dissecar e estudar o funcionamento da espécie, entendendo residir ali a chave para uma série de indagações que o atormentavam. Até o capítulo da Revolução Industrial, no século XIX, a velhice era associada ao conhecimento e à sabedoria, quando justamente aí passou a ser vista de forma negativa, já que a passagem do tempo fazia as pessoas menos produtivas para girar as engrenagens do progresso. É esse passeio que promove o recém-­lançado A Invenção da Velhice Masculina, do jornalista Valmir Moratelli, colunista de VEJA. “Mesmo aqueles que eram enaltecidos na sociedade em que viveram foram alvo de preconceito em algum grau”, obser­va Moratelli.

No decorrer do livro, o autor se detém na representação dos mais velhos em hieróglifos, esculturas e pinturas sublimes. A observação de homens cravados nas telas pelos grandes mestres revela figuras excessivamente enrugadas e curvadas, apoiadas em bengalas — um reflexo do que eram. “Para ter uma ideia, Tomás de Aquino escreveu, no século XIII, que os homens aos 40 eram lentos demais para a guerra”, ressalta. Isso mudou, e Moratelli partiu a campo, colhendo depoimentos de mais de 200 pessoas acima dos 60 anos para decifrar como vêm atravessando tal etapa. Escolheu a ala masculina porque as ciências sociais acumularam pouco saber sobre o grupo. Uma das conclusões é de que eles sentem o peso de uma concepção de masculinidade associada a força, virilidade e poder. Obrigados a seguir o script, muitos se frustram e se fecham, caminhando rumo à solidão. Outros se veem exuberantes, mais afiados do que nunca. “Sempre achei bonita a ideia de envelhecer com inteligência”, diz o ator Antonio Fagundes, um dos entrevistados. Os sábios do passado, gente que soube usar o tempo a seu favor, já pensavam assim.

Publicado em VEJA de 29 de setembro de 2023, edição nº 2861

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