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Fim da ressaca: o crescimento acelerado do mercado de cervejas sem álcool

Maior variedade e a qualidade de novos rótulos tornam a bebida uma opção saborosa para os consumidores e rentável para as empresas

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h08 - Publicado em 30 abr 2022, 08h00
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  • Até pouco tempo atrás, cerveja sem álcool soava como piada. Quem se aventurava pela seção de bebidas do supermercado encontrava poucas opções, todas com gosto distante da bebida original. Evitar a ressaca tinha lá suas vantagens, é claro, mas não representava uma alternativa saborosa. Agora, a situação mudou da água para o vinho — o que era ruim melhorou muito. Maior variedade de rótulos e olhar atento de algumas das maiores empresas do mercado transformaram as geladas sem álcool em produtos de qualidade reconhecida e, como não poderia deixar de ser, rentáveis para a indústria cervejeira. De fato, há forte demanda por esse tipo de bebida. Um levantamento feito pelo Euromonitor a pedido do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv) mostra que a produção quase dobrou de 2019 para 2021 (veja o quadro). O Brasil, terceiro maior produtor de cervejas do mundo, atrás de China e Estados Unidos, adotou de vez a versão sem álcool, que passou a ser alvo até de produtores premiados.

    arte cerveja

    A Dádiva, de Várzea Paulista, no interior de São Paulo, eleita em 2020 a melhor cervejaria do Brasil pelo site RateBeer, foi pioneira em unir o universo das bebidas artesanais com o público que busca alternativas sem álcool. A empresa lançou recentemente uma golden ale, um estilo popular em países como Bélgica, França e Reino Unido por seu sabor frutado e aroma de lúpulos. “Optamos por não produzir uma pilsen ou uma lager, e a decisão foi bem-aceita”, diz Luiza Tolosa, sócia-fundadora da Dádiva. “A demanda inicial foi enorme e tivemos quebra na produção algumas vezes.” Agora, o rótulo faz parte de uma linha especial da cervejaria que é vendida em supermercados e bares.

    A legislação determina que a bebida precisa ter menos de 0,5% de álcool para ser vendida como tal. Para chegar a esse resultado, os cervejeiros usam leveduras específicas que consomem apenas um tipo de açúcar, a glicose, disponível na mistura de malte de cevada e água que inicia o processo de fabricação. Essa etapa da fermentação retira o gosto adocicado e torna o resultado mais próximo daquele a que o consumidor está acostumado.

    Existem outros métodos mais complexos que deixam a cerveja absolutamente sem álcool. É o caso do processo adotado pela Heineken. Os ingredientes e a receita-base são os mesmos presentes em seu rótulo tradicional, mas a cervejaria usa, após o processo de fermentação, um equipamento que retira todo o álcool por meio da chamada destilação a vácuo. Depois, aromas naturais são acrescentados para tornar o resultado quase indistinguível do original. O maquinário é caro e poucas empresas têm acesso a ele, mas o investimento deu resultado. A semelhança de sabor entre as duas versões é tamanha que a sem álcool caiu no gosto do brasileiro. Hoje em dia, o país é o principal mercado do mundo para o rótulo.

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    A forte penetração da Heineken e o pioneirismo de cervejarias como a Dádiva ajudaram a tornar o segmento mais maduro e, portanto, mais cobiçado. Com isso, é possível encontrar bebidas fora da curva. A Doktor Bräu, de Congonhal, em Minas Gerais, está lançando uma fruitbeer (estilo que leva frutas na receita) sem álcool, com pouca caloria e isotônica. “Já tínhamos experiência com cervejas low carb, mas fui atrás da opção mais saudável possível”, afirma Nuberto Hopfgartner, fundador da empresa. Para divulgar a novidade, fechou parcerias com esportistas e grupos de corrida.

    A estratégia pode parecer inusitada, mas não é inédita. Nos Estados Unidos, a Athletic Beer foi criada com a proposta de oferecer uma cerveja sem álcool como bebida ideal para o pós-treino e construiu uma comunidade em torno de atividades ao ar livre e preservação de trilhas para caminhada. Antes, a fabricante alemã Erdinger também apostou no público esportista para popularizar sua cerveja sem álcool. O rótulo, assim como outros clássicos da Alemanha, como a weissbier da Paulaner, é uma das alternativas importadas encontradas por aqui. Ou seja: agora, dá para evitar a ressaca sem abrir mão de uma boa cerveja.

    Sabor sem culpa
    Com técnicas específicas para evitar ou retirar o álcool durante a produção, cervejarias de portes variados garantem a qualidade de suas receitas

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    PAULANER WEISSBIER
    PAULANER WEISSBIER – (./Divulgação)

    PAULANER WEISSBIER
    Na cerveja de trigo da tradicional fabricante alemã, a versão sem álcool mantém o mesmo perfil de sabor e aromas. É um dos bons rótulos importados que o consumidor brasileiro encontra nos bares e supermercados

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    HEINEKEN 0.0% – (./Divulgação)
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    HEINEKEN 0.0%
    O processo de produção retira o álcool da cerveja ao usar técnicas de destilação a vácuo. Com isso, a Heineken consegue reproduzir a sua receita tradicional. O Brasil aprovou — é o maior mercado do mundo

    DOKTOR BRÄU ISOTONIC FRUITBEER
    DOKTOR BRÄU ISOTONIC FRUITBEER – (./Divulgação)

    DOKTOR BRÄU ISOTONIC FRUITBEER
    Pensada para o público esportista, a cerveja leva frutas vermelhas, tem baixo teor calórico e é produzida sem álcool, além de conter sais minerais encontrados em isotônicos. A divulgação da bebida tem sido feita por corredores profissionais

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    DÁDIVA GOLDEN ALE
    DÁDIVA GOLDEN ALE – (./Divulgação)

    DÁDIVA GOLDEN ALE
    Eleita a melhor cervejaria do Brasil por dois anos consecutivos, a Dádiva foi precursora ao lançar um estilo diferente sem álcool. A empresa fugiu do estilo pilsen e lager para criar uma golden ale, popular em países como Bélgica e França

    Publicado em VEJA de 4 de maio de 2022, edição nº 2787

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