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Executivo do Baleia Jubarte defende turismo como ferramenta de conservação

Enrico Marcovaldi foi um dos fundadores do Instituto

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 ago 2023, 11h14 - Publicado em 11 ago 2023, 11h00
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  • Por séculos, as baleias foram caçadas e utilizadas para a fabricação de diversos produtos, de vela a cosméticos e combustíveis. Essa intensa exploração levou a maioria das espécies a um estado crítico, o que quase as colocou em extinção. Na década de 1970, no entanto, com a emergência desse risco, o movimento Save the Whales, lançado pelo Greenpeace, se popularizou em todo o mundo para impedir esse desastre.

    Os esforços culminaram com a proibição da caça, que se deu em 1986. Ao mesmo tempo, surgia o Instituto Baleia Jubarte, que desde lá faz parte dos esforços para salvar esses animais. Antes rara, hoje essa espécie genuinamente brasileira se espalha por extensa faixa da costa e arrasta mais de 10 mil turistas anualmente para ver os acrobáticos gigantes.

    JUBARTE - Turismo: observação de baleias movimenta 3 milhões de reais todos os anos
    JUBARTE – Turismo: observação de baleias movimenta 3 milhões de reais todos os anos (Enrico Marcovaldi/Instituto Baleia Jubarte/Divulgação)

    A organização continua atuante. Com bases na Praia do Forte e Caravelas, na Bahia, em Vitória, no Espirito Santo e em Ilhabela, em São Paulo, hoje eles atuam na conscientização e no apoio a pesquisa a ao turismo. Em entrevista a VEJA, Enrico Marcovaldi, um dos fundadores do Instituto, comentou sobre a história da fundação, o sucesso da campanha de recuperação e a importância da observação de baleias.

    De onde surgiu a ideia de fundar o Instituto Baleia Jubarte? Em 1986, eu fiz parte da turma responsável pela implantação do Parque Marinho dos Abrolhos e nesse momento nós descobrimos uma pequena população de baleias. Isso foi uma surpresa porque naquele momento esses animais faziam parte apenas do imaginário das pessoas, lendas quase extintas. Em 1988, nós criamos o Projeto Baleia Jubarte, que era uma linha de pesquisa dentro do parque. A coisa foi crescendo e logo nós criamos o Instituto Baleia Jubarte, uma ONG que ficou responsável pelo projeto.

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    Qual é a relação entre as baleias e a costa litorânea brasileira? As populações de baleias Jubarte se alimentam nos polos e se reproduzem nos trópicos. Durante o verão elas se alimentam na Antártida, com Krill, um pequeno crustáceo e quando as águas começam a esfriar, elas vêm para o litoral brasileiro se reproduzir. Elas copulam aqui e, após 11 meses, retornam para ter os filhotes – uma população brasileira legítima. Os filhotes nascem com aproximadamente 4 metros, mais ou menos 2 toneladas e mamam cerca de 100 litros de leite por dia. Existem vários grupos, alguns no hemisfério norte e outros no sul. Uma das sete populações é brasileira e está entre as maiores. Na primeira estimativa populacional, na década de 1990, a população de baleias Jubarte estava entre 1000 e 1500 animais. Hoje, de acordo com o último censo aéreo, nós temos aproximadamente 30 mil baleias.

    Então nós podemos dizer que a campanha de recuperação dessas espécies na década de 1980 teve sucesso? O senhor pode comentar um pouco sobre como foi esse movimento? Com certeza foi um caso de sucesso. A proibição da caça em 1986 foi importantíssima, mas o nosso trabalho e o de outros ambientalistas no mundo inteiro foi importante para criar ferramentas e conhecimento para a perpetuação. Você só preserva o que você conhece. Save the Whales foi o maior grito ambientalista até hoje e começou com alguns grupos hippie na década de 1970, quando constataram que as baleias estavam praticamente extintas. Eu ainda era criança, não participei do movimento, mas eu me lembro dos adesivos, da repercussão na imprensa. Alguns anos depois a Comissão Internacional Baleeira, que foi formada com caçadores, décadas antes, mas começou a aceitar ambientalistas, percebeu que se uma atitude não fosse tomada, as baleias desapareceriam. Então eles proibiram a caça.

    SAVE THE WALES - Recuperação: numero de animais na costa brasileira aumentou de 1500 para 30 mil
    SAVE THE WALES – Recuperação: numero de animais na costa brasileira aumentou de 1500 para 30 mil (Enrico Marcovaldi/Instituto Baleia Jubarte/Divulgação)
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    Na nossa costa, falamos muito das baleias Jubarte. Elas são as únicas? São várias espécies de baleias. Eu sou suspeito para dizer, porque a mais bela, a mais acrobática, a que está em maior quantidade é a Jubarte [risos], mas existem outras. Ao sul do país temos a Baleia-franca, que é uma população que se recupera com mais lentidão, são mais calmas e ficam mais próximas da costa. As Minke também aparecem, elas são as menores entre as baleias grandes e por isso foram muito caçadas. Outras espécies como a Baleia-sei e a Baleia-fin também podem ocorrer.

    Em 2021, houve um recorde no número de baleias na costa brasileira, correto? isso se manteve nos anos seguintes? Ah, 2021 foi impressionante. Por algum motivo as baleias fazem esse ciclo. Em 2020 foram muito poucas, mas em 2021 chegaram muitas. Essa temporada está muito boa, mas não está igual a 2021. Neste ano, curiosamente, a quantidade está bem grande no sudeste, enquanto aqui no nordeste ela está normal. O motivo ainda é muito difícil de constatar.

    Há alguns anos, essas baleias só eram vistas na Bahia e hoje elas estão espalhadas por toda a costa. A que isso se deve?
    Elas estão reocupando antigas áreas de reprodução. Primeiro tomaram o banco de Abrolhos, uma área que se estende da Bahia ao Espírito Santo. Agora, o mesmo está acontecendo no sudeste. As primeiras baleias observadas no Rio apareceram em 2014, faz menos de 10 anos, o mesmo aconteceu no Rio Grande do Norte.

    E o turismo crescente para observar baleias é uma coisa positiva? isso oferece algum risco? Nós pensamos que o turismo é uma grande ferramenta de conservação. Nós promovemos, fomentamos, capacitamos e monitoramos a atividade. O Instituto não tem nenhuma responsabilidade operacional e comercial, mas para nós vale uma antiga máxima que diz que “vale muito mais uma baleia viva”, e o turismo se beneficia desse valor. Nós defendemos que as baleias não sejam acessíveis apenas para uma porção de acadêmicos ou pesquisadores. Nossa vontade é que toda a sociedade tenha o prazer de ver as baleias. Obviamente, isso precisa ser feito com responsabilidade, tudo de acordo com as normas de avistamento do Ibama. São seres fantásticos – as pessoas se emocionam, choram e se sensibilizam com a causa. O turismo é uma grande ferramenta.

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