A cada nova temporada, como uma onda no mar que vai e vem, a moda vasculha o baú de referências do passado. Para o verão 2023, a expressão de colorido desbunde dos anos 1970 — que no Brasil era um grito contra a ditadura — dará a tônica em praias e piscinas. Fique de olho: são estamparias inspiradas na cultura indiana e valorização de tudo o que pode ser costurado à mão. Com releitura hippie, os modelitos trazem detalhes com fivelas e os divertidos maiôs peek-a-boo, também chamados de “engana-mamãe”, que revelam a silhueta e escondem o umbigo.
Outro ícone redescoberto é o crochê, que, em 2023, aparece em biquínis — a espalhafatosa atriz Luana Piovani, claro, já aderiu —, saídas de praia, bolsas e chapéus. As calças, perfeitas para deixar a areia e esticar até o restaurante, chegam na modelagem mais famosa daquela época: a boca de sino, também chamada de flare. Estão ainda de volta a padronagem com listras multicoloridas e as estampas florais, atreladas à pegada zen de espelhinhos bordados.
Calhou de a nostalgia coincidir com o primeiro verão pós-coronavírus, embora a pandemia ainda não tenha acabado oficialmente e seja uma sombra de preocupação emoldurada pelas máscaras. Nas praias, ambiente valorizado pelo contato com a natureza, naqueles loucos anos 70 a pele estava à mostra com tangas minúsculas e peças recortadas estrategicamente para exibir porções do corpo. É o que volta com força, a roupa como manifesto debaixo do sol e do sal. “É uma tentativa de traduzir vontade e desejos”, diz o estilista Amir Slama, referência em moda praia. Longe do golpismo de Brasília, ao menos nas praias, o verão será de paz e amor.
Publicado em VEJA de 18 de janeiro de 2023, edição nº 2824