Por que um post sobre arquitetura africana viralizou no Twitter
Postagem que mostra a variedade de estilos arquitetônicos surpreendeu os internautas; especialistas, no entanto, alertam para risco de generalização
Uma série de posts sobre arquitetura africana viralizou recentemente no Twitter. Um usuário da rede social que não tem seu nome identificado postou imagens com cores e formas que chamaram a atenção dos internautas. “Percebi que a arquitetura da África não é tão divulgada quando a comparamos com a da Ásia, da Europa, do Oriente Médio e da Índia”, escreveu. Muitos concordaram com ele: o post teve mais de 400.000 curtidas e 145.000 comentários. Confira:
Por trás de tanta beleza, há uma controvérsia. Para o professor de arquitetura da UERJ especializado em África, Roberto Conduru, é importante ressaltar a diversidade africana. O continente é composto por centenas de etnias que têm uma cultura, um modo de viver e, consequentemente, uma arquitetura próprios. Não é possível rotulá-los da mesma maneira, diz ele. Para o professor, falar em arquitetura africana é como falar sobre arquitetura sul-americana e “colocar a arquitetura inca, a modernista colombiana e um prédio da Avenida Paulista em um mesmo saco. Não faz o menor sentido”, afirma.
O fotógrafo especializado no continente, Milton Guran, afirma que uma arquitetura tradicional africana não existe. O território é composto por diferentes culturas e, por isso, não é possível generalizar. O estudioso afirma que cada povo tinha o seu tipo de material disponível e as suas necessidades a serem atendidas. “Depois da colonização houve uma certa padronização, por causa da influência estrangeira. Hoje o que existe são nuances de estilo”, diz.
Ambos ressaltam que a divisão cultural africana não é a mesma que a divisão política do continente. “Existem diversos grupos étnicos em um país e um grupo étnico em diversos países”, afirma o professor. Por isso é complicado dividir a cultura africana tendo como base os países, aponta.
A falta de valorização e de conhecimento sobre o continente africano, segundo Conduru, vem de um estigma de que esta é uma região atrasada. Segundo ele, o preconceito é originado do tráfico de escravos africanos, da colonização e da dominação que esses povos sofreram durante tanto tempo.