Em 11 de janeiro, estreia no Brasil a animação O Touro Ferdinando, com direção do brasileiro Carlos Saldanha (A Era do Gelo 2, Rio). Os mais velhos devem se lembrar das muitas reprises na televisão de um curta de animação, produzido por Walt Disney em 1938, com a mesma história do bovino tranquilão – o filme até levou o Oscar da categoria naquele ano. Ambos são adaptados do clássico livro infantil do americano Munro Leaf, lançado em 1936, e relançado agora por aqui em uma edição caprichada (tradução de Flora Pinheiro, Intrínseca, 72 páginas, 39,90 reais).
O livro acompanha de uma forma leve e divertida a vida de um touro espanhol fora do comum. Ao contrário dos demais bezerros do pasto, Ferdinando não se interessa por correr, saltar e trocar cabeçadas. Ele é da paz e prefere se isolar à sombra de uma árvore enquanto aprecia o perfume das flores. Até crescer, bonito e forte, e chamar a atenção – meio sem querer, é verdade – dos homens e ser levado para as arenas de Madri como se fosse uma fera incontrolável.
Além do texto simples, a publicação respeita também os maravilhosos desenhos de Robert Lawson, amigo de Leaf que cuidou do visual da história na época. Detalhista, apesar de alguns momentos mais cartunescos, seu traço em preto-e-branco já revela a sensibilidade de um dos mais prestigiados ilustradores de histórias infantis – ele também é autor de algumas obras, como A Colina dos Coelhos.
Para os adultos, chama a atenção a mensagem de não-violência do autor em plena ascensão do nazismo na Europa – ainda mais localizando a história na Espanha, que entrava na época em uma sangrenta guerra civil, ensaio para a Segunda Guerra Mundial. Não por menos, o livro foi queimado por Hitler e proibido por Franco. Gandhi, por outro lado, adorava. Já as crianças identificam em Ferdinando uma infância pura e simples e a ideia de que não adianta forçar alguém a ser o que ela não é. Pode ser diferente sim.
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