Dias Perfeitos (Perfect Days; Japão/ Alemanha; 2023. Estreia em 29 de fevereiro)
Hirayama é um homem de poucas posses. Ele vive só num pequeno apartamento em Tóquio, onde dorme em um futom e cuida de algumas plantas e de sua coleção de fitas cassete — estas, com sons de artistas como Van Morrison, Patti Smith e Lou Reed. De manhã, acorda cedo e entra em sua van rumo ao trabalho: o homem na casa dos 60 anos de idade limpa banheiros públicos com o esmero de um artista diante de uma tela. Interpretado pelo excelente ator japonês Koji Yakusho, Hirayama tem uma rotina sólida e simples que lhe traz paz e contentamento. Claro, de vez em quando, a serenidade do protagonista de Dias Perfeitos é posta em xeque pelo caos externo, especialmente por seu ajudante Takashi (Tokio Emoto, divertido), que quer vender as fitas raras do chefe para, com o dinheiro, conquistar uma garota. Mas é a visita inesperada de um parente que de fato desestabiliza o protagonista, abrindo uma brecha para seu passado. Levanta-se, então, a dúvida: seria o estilo de vida adotado por ele uma prática zen ou fuga? Indicado ao Oscar de produção internacional, o filme é assinado por Wim Wenders. Encantado com a beleza arquitetônica e tecnológica dos banheiros de Tóquio, o incensado diretor imaginou a trama do faxineiro inspirado no minimalismo poético de Yasujiro Ozu (1903-1963), seu diretor favorito. O longa filosófico reflete sobre a força da superação e os conceitos de felicidade — empreitada que se encerra com uma linda cena que faz jus aos grandes momentos da história do cinema.
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