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Música sem preconceito: de Beethoven a Pablo do arrocha, de Elis Regina a Slayer
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Para o Língua de Trapo eu digo sim

Como foi o lançamento de O Último CD da Terra, primeiro disco de inéditas do grupo paulistano em 24 anos

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 22h57 - Publicado em 19 abr 2016, 20h58

IMG_42441No palco do teatro do Sesc Pompéia (São Paulo), Laert Sarrumor, vocalista do Língua de Trapo, faz sua primeira intervenção da noite. “Muito obrigado por preferir a este show”. Sarrumor, claro, se referia à votação do processo de impeachment da presidente Dilma Roussef, que acontecia no mesmo momento da apresentação de lançamento de O Último CD da Terra. É o mais recente disco do grupo paulistano e primeiro em 24 anos a conter material inédito (embora muitas canções tenham dado as caras em performances das mais diversas encarnações da banda).

Surgido no cenário independente paulistano das décadas de 1980, o Língua de Trapo sempre remou contra a maré. Eles não flertavam com o trabalho de pesquisa de MPB do grupo Rumo, muito menos com os experimentos dodecafônicos de Arrigo Barnabé. Faltava-lhes ginga para se enfiar no movimento afro brasileiro de Itamar Assumpção e eram animados demais para adentrar no sisudo – e então iniciante – movimento do rock. E mesmo o Premeditando o Breque, sua banda par no território do humor, tinha diferenças brutais em relação ao Língua de Trapo. O Premê, como era conhecido, possuía um instrumental mais rico – eram todos virtuoses – e suas composições tinham uma centelha pop para tocar nas rádios FM (que naquele tempo eram menos segmentadas). O Língua, por seu turno, nadava no brega de AM e na jovem guarda e suas letras eram puro escracho. Sim, eles também compuseram reggaes, funks, sambas apaulistanados e até fado. Mas nada se comparava a Laert Sarrumor fazendo o “meu amigo” de Roberto Carlos nos tempos de jovem guarda. Reis da incorreção política, chegaram a gravar uma canção na qual o tirano alemão Adolf Hitler se justificava pelos seus crimes, utilizando desculpas esfarrapadíssimas (a sensacional Hitler – Ou Foi Tudo Exagero da Imprensa).
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Outra parte de suas letras retratou cotidianos tipicamente paulistanos, como a noite do bairro do Bixiga, o Grupo Sérgio, uma famosa rede de rotisseries dos anos 1970 e 1980, ou o movimento punk.

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Com essa biografia, não é de se espantar que novamente o Língua de Trapo trafegue na contramão do mercado. Primeiro porque estão lançando um disco num período em que o CD perdeu espaço para os downloads virtuais e sites de streaming. Segundo porque fizeram um show de lançamento. Em boa parte de eventos dessa categoria, o disco novo é apenas um pretexto para o artista tocar três ou quatro canções fresquinhas e se debruçar sobre o velho repertório. Mas o Língua de Trapo não fez concessão. Havia um coro de convidados, o Lumiá XXI, que brindou o público com uma versão a cappella de Malandragem dá um tempo, sucesso de Bezerra da Silva; intervenções humorísticas de Alex Moreno, Murilo Effe (impecável como o faxineiro que avisa o público sobre o “atraso” do show) e Carla Mercado. Laerte Sarrumor e Sérgio Gama são os únicos remanescentes da formação clássica. No entanto, a performance do Sesc contou com integrantes históricos como Carlos Melo e Ayrton Mugnanini Jr. e Guga Domenico (cujo filho, Deni Domenico, foi responsável pelos arranjos das canções do show). Faltou Pituco, o japonês sorridente de Régui Spiritual e que nos levava às lágrimas com A Rainha do Karaokê?

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Sim, faltou, mas ele mora no Japão e só nos resta nos conformar e imaginar como aquelas músicas funcionaram na sua voz. E, convenhamos, Laerte não faz feio. As composições atuais não trazem o mesmo viço das criações anteriores do Língua, mas são fieis ao objetivo do grupo em retratar o dia-a-dia numa São Paulo cada vez mais caótica. E, sinceramente, num tempo em que os grupos mais antigos sobrevivem de requentar velhos temas ou fazer shows apenas com canções de vinte, trinte anos atrás, é saudável e corajoso assistir a uma apresentação de canções novas e com um roteiro especialmente criado para aquela performance. Os temas são intercalados não apenas por sketches de humor, mas também por uma ou outra canção antiga, que mostra que houve um mínimo de progresso em serviços como o telefone e o transporte urbano. O público, mesmo o que não conhece o novo trabalho do Língua, riu, cantou junto e, acima de tudo, se identificou. E pode se emocionar com o bis final, onde todo o teatro do Sesc cantou Conchetta.

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Em nome da família, de São Paulo e o escambau, para Laert Sarrumor e o Língua de Trapo eu digo sim.

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