Outro ator de novela fala de racismo sofrido em gravações da TV Globo
Acusações recaem sobre Vinicius Coimbra, diretor de ‘Nos tempos do Imperador’
Cinco meses após o término de Nos tempos do Imperador, veio à tona uma série de denúncias envolvendo racismo que teria sido cometido por Vinicius Coimbra, diretor da novela. As atrizes Roberta Rodrigues, 39, Dani Ornellas, 43, e Cinnara Leal, 44, o denunciaram à TV Globo, e ele foi afastado ao término da produção. Um outro ator, Ricardo Lopes, 39, também o acusa pelo mesmo motivo. Os bastidores dessa denúncia correm em segredo de justiça, mas foi detalhado pela coluna. Ele está ensaiando dois espetáculos: O Balcão, de Jean Genet, que estreia ainda este mês no Sesc de Copacabana, no Rio; e Animal Farm, de George Orwell, com previsão de estreia para setembro. Em conversa com VEJA, Ricardo dá detalhes do que se passou e como tem lidado com o silêncio sepulcral dado ao caso.
Como você recebeu a notícia do afastamento do diretor Vinicius Coimbra?
Fiquei feliz por ele pagar pelo que estava fazendo. A postura que ele tinha era totalmente inadequada. Nem era minha vontade de participar disso, porque as meninas (as atrizes) estão fazendo esse papel.
O que de fato aconteceu com você?
Ele me destratou. Fiz três participações, meu papel estava escrito como “Escravo 1”. Ele só se dirigia a mim como escravo. Ele falava: ‘Escravo, se posiciona em tal lugar, vai para outro lugar…’. Isso foi me deixando constrangido. A assistente de direção virou e falou: ‘O nome dele é Ricardo’. Ele não se dirigiu mais a mim.
Qual foi sua reação naquele momento?
A ficha caiu na hora, e ele falou várias vezes. Não houve um respeito, um cuidado. O único apoio que eu tive foi da assistente de direção, que infelizmente não lembro o nome. Ele falava pelo microfone, o set inteiro ouve. Me senti acolhido, mas foi muito constrangedor. Saí e fui conversar com minha mãe. O erro começa já no roteiro. Se o personagem vai ter fala, vai dialogar com outros atores, tem que colocar nome no personagem. Tem que ser “escravo”? Coloca “Joaquim”! O roteiro contribui para isso.
Que consequências você sofreu depois disso?
Fechou portas para mim ali dentro, as pessoas mal pegam no meu material. Tenho perfil, cadastro lá dentro. E não tenho mais recebido mais trabalhos. Essa foi a primeira novela, mas tive contrato em 2013, na minissérie Subúrbia. Agora, isso aí deu uma mexida grande na minha vida.
Como?
Atrasou minha vida. Nenhum produtor de elenco me liga mais. Agora, pra pedir desculpas é rápido, pra me dar trabalho demora. Nunca recebi mensagem alguma de diretor da Globo. Aí do nada ele me liga?! Pra isso arrumam me telefone!
Você também presenciou algo com outros do elenco?
Não presenciei nada. Falo pelo que aconteceu comigo, me senti mal por ele não ter tido respeito. Ele me ligou, é amigo do diretor da minha companhia teatral, o Bruce Gomlevsky. Me ligou e falou “Desculpa pela forma como eu o tratei”.
Você o desculpou?
Nem respondi direito, falei “tudo bem”. Quem saiu perdendo fui eu.
Como era o clima do set de gravações?
Tudo maravilhoso. O problema foi quando entramos para gravar. A forma como ele se dirigia a mim. Isso aconteceu na externa, na ilha de Guaratiba (zona oeste do Rio de Janeiro). Nunca tinha sofrido qualquer caso de racismo no trabalho, graças aos deuses. Mas o racismo é estrutural dentro da Globo. Você percebe observando quem faz participação e quem é elenco fixo.
E como lida com isso no dia a dia?
Sofro racismo na rua! Estava descendo a rua (do bairro) da Glória, onde minha mãe mora, e voou um ovo na minha direção. Outro dia, um senhor me deu uma cotovelada. Ontem entrei no metrô e vagou lugar. Sentei ao lado de um rapaz branco e ele levantou, passou a viagem inteira em pé. O racismo me oprime, é uma batalha diária me concentrar e me fazer sentir bem. Só sabe quem sente na pele.