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Exclusivo: Tudo sobre a secreta investigação de racismo dentro da Globo

Crime teria ocorrido na trama ‘Nos tempos do imperador’, sob direção de Vinicius Coimbra, envolvendo três atrizes

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 jul 2022, 15h16 - Publicado em 13 jul 2022, 08h04

O último capítulo de Nos tempos do Imperador foi ao ar no já longínquo 4 de fevereiro. Mas os bastidores da novela continuam rendendo. O Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ) abriu inquérito e, na tarde desta terça-feira, 12, colheu o depoimento das atrizes Roberta Rodrigues, 39, e Dani Ornellas, 43, que, junto a Cinnara Leal, 44, denunciaram o diretor Vinicius Coimbra, 50, de racismo na TV Globo. Roberta e Dani são representadas pelo time Jurídico composto por Gustavo Proença, Lorena Martins, Djeff Amadeus e Carolina Bassin. Eles não compõem o mesmo escritório de advocacia, entretanto montaram este time especifico para o caso. “A luta segue. O MPT abriu investigação para apurar possíveis práticas discriminatórias na novela. Seguimos atuando com firmeza para esclarecer todos os fatos. Vamos com este potente”, comemora Proença.

Uma fonte da produção da novela – escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson – relata que Vinicius teria usado diversas vezes palavras agressivas nas filmagens. Esta mesma fonte, numa das cenas, na cidade cenográfica, conta que ele ordenou: “Elenco pra esse lado, negros pro outro lado”. Uma das atrizes disparou: “E eu que sou do elenco e sou negra, de que lado fico?”. Ele teria ignorado. As atrizes pedem indenização pelo crime de racismo, equiparação salarial com atores brancos e por danos morais. Elas só decidiram ir a esferas superiores, porque comunicaram o fato aos diretores Ricardo Waddington, de entretenimento, e José Luiz Villamarim, de dramaturgia. Mas nada teria sido feito na prática.

Desde que fizeram a denúncia internamente, o compliance da emissora passou a gerenciar o caso de forma extremamente sigilosa. O trio de atrizes, entretanto, se dividiu. Enquanto Roberta e Dani se apegaram aos fatos e foram ao MPT com o corpo jurídico, Cinnara queria dar sua versão à imprensa – o que foi impedido por sua assessoria de comunicação, alegando um acordo firmado entre elas para uma futura publicação. Mais de uma vez, a atriz disse que “silenciar não é mais opção”, e não estava disposta a “naturalizar tudo isso”. Alegara, por exemplo, que passou a estar sob tratamento psicológico. O MPT está intimando atrizes, atores, diretores e produção da novela da TV Globo. Os advogados esclarecem à coluna, que a investigação corre em segredo de justiça, ontem foi colhido este depoimento, mas “outros já ocorreram e mais outros ainda ocorrerão”.

Leia também: A nova concorrente da Globo que a assusta mais do que a Record

NARRATIVA PROBLEMÁTICA

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Os autores de Nos tempos do Imperador não falam sobre o caso. A trama já apresentara problemas graves de racismo, incluídos na própria narrativa. Num certo capítulo, a mocinha branca Pilar (Gabriela Medvedovski) foi rejeitada como moradora na Pequena África – espaço de resistência de negros livres e fugidos que precisavam de abrigo no Rio do século 19. Seu namorado Samuel (Michel Gomes) disse à jovem: “Só porque você é branca não pode morar na Pequena África? Como queremos ter os mesmos direitos se fazemos com os brancos as mesmas coisas que eles fazem com a gente?”. Os telespectadores imediatamente reconheceram que a fala era problemática, o que induz à tese de racismo reverso, algo inconcebível. Na ocasião, a autora Thereza Falcão pediu desculpas pelas redes sociais, sob curiosa alegação de que os capítulos foram escritos antes da pandemia de Covid-19. Às pressas, a emissora precisou contratar o escritor e pesquisador de cultura afro-brasileira Nei Lopes para rever todos os capítulos gravados que ainda não tinham ido ao ar. Várias cenas foram reeditadas, outras gravadas de novo.

Vinícius Coimbra era um diretor em ascensão dentro da Globo. Até então prestigiado na emissora, esteve à frente de novelas de época, como Lado a Lado (2012), eleita a melhor novela da TV mundial com o Emmy Internacional em 2013; e Liberdade, Liberdade (2016), que fez história com a primeira cena de sexo entre dois homens da teledramaturgia brasileira.

Em contato com defesa das atrizes Roberta e Dani, esta não confirmou nenhum fato específico, mas informou que todos os fatos estavam sendo cuidadosamente investigados ao MPT. Cinco meses depois do fim da novela, Roberta é a única entre as envolvidas com trabalho ainda na emissora: estará na quarta temporada da série A Divisão, do Globoplay. Dani tem produções voltadas ao cinema ainda este ano. Cinnara não tem projetos em vista. Vinicius se mudou para Lisboa.

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Leita também: A verdade inconveniente que une as novelas da Globo e da Record

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