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O que fez samba da Mocidade, de Marcelo Adnet, viralizar antes do carnaval

Além deste, o do Salgueiro também é apontado entre os melhores

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 Maio 2024, 17h09 - Publicado em 3 jan 2024, 14h00
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  • Conforme a coluna já antecipou, um dos hits para o próximo carnaval é o samba da Mocidade Independente de Padre Miguel, que se tornou a música viral mais ouvida do Rio, superando nomes como Filipe Ret e MC Cabelinho no Spotify. É apontado como uma das melhores letras do ano, no enredo Pede caju que dou… Pé de caju que dá. Tudo por causa do refrão, assinado por Marcelo Adnet e outros: “Meu caju, meu cajueiro / Pede um cheiro que eu dou / O puro suco do fruto do meu amor / É sensual, esse delírio febril / A Mocidade é a cara do Brasil”. Há até um duplo sentido político na letra que tem ajudado no engajamento. Na contramão de enredos pesados, a leveza da escola se destaca no álbum. Mas há outros para se ficar atento.

    Com os pés no samba e os olhos na militância, a Acadêmicos do Salgueiro faz sucesso neste pré-carnaval por outro motivo, ao abordar de forma direta a mortandade dos ianomamis, no enredo Hutukara. No refrão provocativo, canta-se: “Você quer me ouvir cantar Yanomami/ Pra postar no seu perfil/ Entre aspas e negrito/ O meu choro, o meu grito, nem a pau, Brasil!”. A Grande Rio investiu no folclore amazônico do enredo Nosso destino é ser onça. O refrão do meio lembra, e muito, o samba sobre Exu, que deu o inédito título à escola de Caxias. Faltou mais malícia na inspiração tão recente. Fechando o quarteto principal, a atual campeã Imperatriz Leopoldinense canta Com a sorte virada pra Lua, segundo o testamento da cigana Esmeralda. Leve, de fácil leitura e melódico, o samba é uma ode a antigas composições.

    Gbalá: viagem ao templo da criação, clássico composto por Martinho da Vila para o carnaval de 1993, é a escolha da Vila Isabel. Segue sendo um lindo samba – reforçado pelo clichê “clássicos não envelhecem”. Porém, seu ritmo cadenciado promete ser um desafio e tanto à escola em tempos de sambas acelerados. É o tipo de letra que, se mexer um tiquinho, desanda. A conferir.

    Potência nos últimos carnavais – afinal são dois vices e um terceiro lugar, além de um título nos últimos quatro anos, no meio da tabela surge Unidos do Viradouro ao defender Arroboboi, dangbé. A lenda afro dá num samba difícil, longe dos refrões-chicletes de outros tempos, mas lindo de se prestar a atenção. “Arroboboi meu pai, arroboboi Dangbê / Destila seu axé na alma e no couro” é pura vibração.

    Nos mesmos moldes vem Porto da Pedra, ao retornar ao Grupo Especial, com Lunário Perpétuo. O enredo sobre uma publicação espanhola do século XVI ganhou levada de baião que dá vontade de saber onde é que isso vai dar. Nada sonolento, acerto da agremiação. Destaque para o trecho: “Quem acendeu as lamparinas desse céu? No Brasil os retirantes são os astros de cordel”.

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    Também no meio da tabela, a Mangueira podia mais com a homenagem a Alcione. Chico Buarque, Braguinha, Dorival Caymmi e Carlos Drummond de Andrade, só para citar alguns, já tiveram suas vidas eternizadas em belas letras da Verde e Rosa. Os tambores de mina do Maranhão, dessa vez, não ecoaram com vigor no Palácio do Samba. Há trechos complicados como: “Vai provar que o samba é primo do jazz / Falar de amor como ninguém faz / Nas horas incertas, curar dissabores / Feito uma loba impor seus valores”. Mas em se tratando da vida de uma das cantoras mais populares do país, nada se torna um problema a ser resolvido na Avenida. A Beija-Flor escolheu homenagear Alagoas em Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila, num samba que tenta a todo custo fugir da acomodada fórmula que segue há décadas. Uma pena que tenha optado por um refrão que repita “Aqui é Beija-Flor/ Doa a quem doer”.

    Fechando a meiúca de bons sambas, surge Paraíso do Tuiuti, com Glória ao Almirante Negro, sobre o marinheiro João Cândido e a Revolta da Chibata, de 1910. Samba de encomenda – assinado por Moacyr Luz e outros parceiros, faltou clareza e poesia a partes como “Glória aos humildes pescadores / Yemanjá com suas flores / E o Cais da luta ancestral”.

    Na ponta de baixo da tabela, a centenária Portela canta Um defeito de cor, inspirado no livro homônimo de Ana Maria Gonçalves. A triste melodia não é compensada por letra inspirada. Tal como se vê em: “Teu rosto vestindo o adê / No meu alguidar tem dendê / O sangue que corre na veia e Malê”. Sem falar na repetição enjoada de “nego/nega” no final da composição. Só consegue ser melhor que o samba da Unidos da Tijuca, na tentativa de se misturar Brasil e Portugal em O conto de fados. Tem o pior refrão do ano: “Roda na gira a saia de linho rendado / Que o fado vira samba, e o samba vira fado”. No mais, a sorte está lançada. A se ver pela história contada na Sapucaí, ter um bom samba é meio caminho para um desfile arrebatador.

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