Desde 2007 na Unilever, Carolina Riotto, 39 anos, é atualmente diretora de marketing da categoria de alimentos da Unilever no Brasil, que inclui marcas como a Hellmann’s. Durante sua trajetória, atuou pela empresa em mercados como Singapura e Reino Unido. Mãe de duas filhas, de 5 e 3 anos, Carolina se formou em publicidade na ESPM e tem especialização em gerenciamento de novos produtos e serviços pela FGV. Para a coluna, ela avalia as transformações no mercado de trabalho visando à mulher e reflete como a maternidade mexeu com sua rotina.
Como mãe e profissional, como foi o processo de trabalhar durante as gestações? Quando engravidei, eu tive proposta de ir para Holanda e, grávida, falei: “Não quero, quero ir para casa. Quero estar perto da minha família, é minha primeira filha. Quero muito contar com a rede de apoio familiar”. E todo mundo falava para mim: “nossa, Carol. Tem certeza que você vai abandonar essa oportunidade de ter seus filhos na Europa?”. Falei “sim”, e a empresa foi muito respeitosa com a minha decisão enquanto mulher. Meu marido também foi parceiro. Tive minha primeira filha. Logo que voltei da licença-maternidade foi desafiador tentar equilibrar os papéis…
Por quê? Sempre fui muito focada no trabalho, sempre estava disponível. Então tive que aprender a rebalancear as prioridades da minha vida. Na segunda gestação, toda durante a pandemia, para voltar ao trabalho falei: “na minha vida agora não cabe um trabalho 100% do tempo”. Voltei fazendo seis meses de part time job, ou seja, trabalhava metade do tempo. Foi incrível. Foi uma volta da licença-maternidade muito diferente da primeira, porque tinha o tempo de ficar com as minhas filhas, meu tempo de trabalhar, para me sentir produtiva, mas sem deixar de estar presente para elas. Depois voltei promovida, com vaga de diretora. E espero, cada vez mais, ouvir mais histórias como a minha. Espero que minhas filhas, daqui a alguns anos, ao chegarem ao mercado de trabalho, percebam que essa seja a regra.
O que aplica da maternidade no trabalho? Uma coisa que aprendi é que a gente tem que ser muito claro com nossas vontades, verbalizar o que quer. Isso me ajudou muito. Trabalho com muita empatia. E uma coisa que a maternidade me trouxe foi o pragmatismo, a sensação de que preciso aproveitar meu tempo e tirar o melhor desse tempo, porque quero estar presente com as minhas filhas, cuidar da minha saúde.
No começo da carreira, gostaria de ter tido exemplos como o seu? Ao longo dessa jornada aprendi a admirar não só as mulheres que deixam muitas vezes os filhos em casa para ir trabalhar, mas as que têm coragem também de largar o trabalho para ficar em casa com os filhos. É fácil, do lado de fora, a gente fazer julgamento. E hoje, no papel de mãe de duas, sei o quão difícil é. Cada escolha é uma renúncia. As pessoas me falam: “como você equilibra tantos pratinhos?”. Não equilibro, cada hora uma coisa pesa mais. Essa doce ilusão do equilíbrio não existe.
Cada caso é um caso, certo? Isso, cada escolha que a mulher faz na jornada profissional e pessoal vem carregada de muitas responsabilidades. Principalmente quando mistura o papel de mãe, de líder e de profissional. Espero evoluir para uma sociedade que entende muito mais esses momentos e no futuro não feche portas por decisões que se fez no passado. Espero que o mercado de trabalho seja cada vez mais aberto e empático com mulheres e mães.