Pedro Bial, 64 anos, vai apresentar o Linha Direta, programa de reconstituição de crimes de grande apelo público. É uma das apostas da TV Globo para turbinar sua programação em 2023. Inspirado em programas de sucesso nos Estados Unidos, em cada episódio são apresentados dois casos policiais, com a cobertura jornalística, trazendo o processo de investigação e a reconstituição baseada em depoimentos e atuação. Mas o que está por trás dessa volta do programa – que ficou no ar entre 1990 e 2007 – tem a ver com o atual boom de procuras pelo gênero criminal, ou o true crime.
O true crime está em alta em produções tanto de séries e filmes, quanto de livros e podcasts. Na Netflix, por exemplo, é sucesso atual Dahmer: Um Canibal Americano, sobre um serial killer canibal que tinha como alvo gays norte-americanos do começo dos anos 1900. No mês de outubro, foi o segundo título mais assistido dentre as produções originais do streaming – 701,37 milhões de horas de visualização em suas três primeiras semanas no catálogo da plataforma. É mais um exemplo de como anda aquecido o tema criminal.
Bruno Dieguez, professor de audiovisual da PUC-Rio, avalia que é muito comum existirem tendências de tipo de conteúdo mais produzidos em certo momento da sociedade. “Eu diria que essa onda de true crime brinca um pouco com a percepção de que a gente fica interessado naquilo que é fantástico, que foge da normalidade, porque não são crimes normais”, refletiu. Já Tatiana Helich, pesquisadora de narrativas policiais contemporâneas do livro às telas, diz que o crime sempre chamou a atenção do público, por mexer com questões da sociedade. “O crime é a melhor forma de entender as questões sociais em determinado contexto. Mesmo quando no romance policial você já sabe quem é o criminoso, que é o que as séries atuais trabalham, o que desperta interesse são as novas questões, pontos de vistas, ora pelo lado do criminoso, ora por outra informação que surge anos depois”, declara.
Linha Direta vem beber dessa fonte – da curiosidade do público em revisitar crimes que chocaram a sociedade e que ainda se fazem presentes em sua memória. Partindo da máxima de que o criminoso sempre volta ao local do crime, as produções revertem a lógica para o “telespectador de volta ao mesmo local”.