O legado de ‘Volta por Cima’ que Claudia Souto deixa na teledramaturgia
Novela das 7 da TV Globo termina no dia 26 de abril

Em tempos de audiência sofrível, as novelas da TV Globo começaram a adotar recursos – alguns até polêmicos, como os cortes conservadores – para não perder os telespectadores mais tradicionais. Neste contexto, certos autores têm acertado na construção de folhetins que até parecem ser feitos para servir de inspiração às próximas produções, além da audiência satisfeita. Histórias que são agradáveis de assistir e, quem sabe, podem conquistar o público do streaming. Escrita por Claudia Souto, Volta por Cima, atual novela das 7, termina no sábado, 26, deixando um exemplo para as futuras histórias e até com uma vitória, já que em alguns momentos superou “nobre” Mania de Você no Ibope. Enquanto a obra de João Emanuel Carneiro sofreu uma série de alterações ao longo da sua exibição, no desespero de subir os pontos de audiência, Volta Por Cima seguiu sem “barrigas” ou erros gritantes. A única grande mudança será na transmissão do último capítulo. Comumente exibido às sextas-feiras, com a reprise aos sábados, o desfecho da trama será no sábado, 26. Não é a primeira vez que isso acontece, Fera Ferida (1994) e Duas Caras (2007) são exemplos, mas é um fato especial tendo em vista o longo histórico da teledramaturgia. A coluna GENTE reuniu alguns exemplos da narrativa da autora que vão ficar de legado para seus sucessores.
Volta de veteranos. Com a nova geração de atores dominando cada vez mais as produções, é bom rever rostos que foram destaque na telinha em décadas passadas. Volta por Cima resgatou, por exemplo, Lucinha Lins, atriz que atuou em clássicos da televisão, como Roque Santeiro (1985), O Salvador da Pátria (1989) e A Viagem (1994). Seu último trabalho em novelas da emissora havia sido em Chocolate com Pimenta (2004). Outra artista que retornou foi Tereza Seiblitz, intérprete de Doralice, mãe da protagonista Madalena (Jéssica Ellen). Tereza atuou em Barriga de Aluguel (1990), Pedra sobre Pedra (1992) e na primeira versão de Renascer (1993), mas seu trabalho ficou marcado com a interpretação da cigana Dara, em Explode Coração (1995).
Representatividade sem estereótipos. Souto também inovou ao construir personagens asiáticos de forma diferente dos anteriores, que vinham estereotipados. No folhetim das 7, há um núcleo inspirado na cultura da Coreia do Sul e liderado pelo influenciador Allan Jeon, intérprete do jovem Jin Kown. Além disso, há o Alberto Fontoura, vivido por Chao Chen, que está em outro núcleo e tira aquele perfil dos personagens amarelos que carregam o sobrenome oriental. E, por fim, a atriz Jacqueline Sato, que interpreta Yuki. Sua história vai para o lado social, ao mostrar os desafios que uma mulher enfrenta para sair de uma relação tóxica.
Vilão com carisma e humor. Os telespectadores têm a tendência de amar odiar os vilões, mas, geralmente, aqueles que trazem a ironia na crueldade. No caso de Volta por Cima, Milhem Cortaz conseguiu criar carisma em Osmar, um trambiqueiro que rouba o cunhado para crescer na vida e ainda se envolvendo com o jogo do bicho. É daqueles casos que a raiva mesmo fica somente com a família da personagem.
Visual. Neste caso, a produção não chegou a ser inovadora, mas seguiu uma tática que obteve sucesso em Vai na Fé (2023), última novela da faixa das 7 bem-sucedida. Ao montar cenários urbanos, condizentes com uma história que se passa no subúrbio, a trama até se aproximou da obra de Rosane Svartman. Um detalhe notável, desta vez, foi a união de uma roda de samba em um ambiente urbano, como acontece no cotidiano de várias regiões do país. Porém, é preciso ficar alerta com as repetições para não cansar o público.
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