‘Nós somos profanos’, diz Letícia Colin, ousadíssima em ‘Todas as Flores’
Atriz, que estreia como vilã em novela do Globoplay, conversou com VEJA
Letícia Colin, 32 anos, é a vilã Vanessa de Todas as Flores, novela de João Emanuel Carneiro. A trama estreou no Globoplay, depois da reviravolta interna que a tirou da grade da TV Globo (a novela estaria no lugar de Travessia). A atriz promete muitas maldades, principalmente com a irmã, deficiente visual, vivida por Sophie Carlotte. O público tem acompanhado não só isso. As cenas com Caio Castro, com nudez e sensualidade, estão dando o que falar. Em conversa com a coluna, Letícia se aprofunda nos questionamentos trazidos pelo seu trabalho.
Como é viver uma vilã de João Emanuel Carneiro em Todas das Flores? É a minha primeira vilã declarada, é uma emoção gigante, ainda mais fazer uma vilã na obra de João Emanuel, que é um autor que tem vilãs ontológicas. E eu sempre gostei de interpretar vilã, desde criança. Uma das primeiras personagens que fiz no teatro foi uma bruxa muito malvada. Essa brincadeira de poder acessar esse lugar e fazer uma crítica também, isso é o mais poderoso.
Como assim? A gente consegue ilustrar o mal, criticando, dando nome e endereço, para uma coisa que temos todos dentro de nós. A vilania está associada ao egoísmo, que é o grande mal da humanidade. O mundo está assim, porque as pessoas querem ter muito só para elas, só para os delas.
E qual é o seu lado vilã no dia a dia? Muitas vezes eu desejo apenas o meu prazer. Tenho a fantasia de que o meu desejo seja atendido, independentemente do outro. Isso é muito associado ao egoísmo, estamos todos sujeitos a cair nesse lugar. Eu posso acessar sim, principalmente se eu estiver muito cansada, muito revoltada com a situação do país.
Em que momento você deixa isso aflorar? Quando estou sozinha, é quase um procedimento de segurança para não machucar ninguém. Porque a gente sente as coisas, é atravessada pela pressa, pelo desejo. Sublimar esses sentimentos não é bom. Faz parte do ser humano sentir coisas nem sempre iluminadas, nós somos sombrios, profanos.
Como controla esse ímpeto? É sentir e conseguir canalizar essa energia para outro lugar. Costumo tomar um banho, procuro escutar música, escrever um pouco, chorar, são coisas que ajudam a aliviar…
Que cena mais te chamou atenção até aqui? Uma que a gente acabou de gravar e que eu, como Vanessa, levo a Maíra (Sophie Charlotte), para mergulhar no mar. Maíra é uma personagem de Pirenópolis, que não conhecia o mar. Um dia, levo ela para mergulhar, mas ela não saber nadar, precisa da minha ajuda para guiá-la por causa da sua condição de PCD. É interessante a mistura dos sentimentos da Vanessa, de proteção com a irmã, e também de inveja. Passam coisas terríveis pela cabeça dela no mar.
A novela iria ao ar na TV aberta e depois foi para o Globoplay. A mudança foi frustrante? Não, não foi não. O streaming é uma maravilha, celebro muito as novas possibilidades que a gente tem de escolher o que quer ver e como fazer isso, é muito bom.
Houve alguma mudança real nas gravações com essa mudança? Ela acabou tendo um número de capítulos diferente, diminuindo para 85 capítulos, que do ponto de vista dramaturgo e da narrativa traz uma agilidade enriquecedora para a história. A série tem mais velocidade, é mais cativante, tem muitos ganchos, não consegue parar de ver…