Vilão em Fuzuê, como o inescrupuloso Pascoal, Juliano Cazarré, 43 anos, gosta mesmo é de exercer o papel de bom pai na vida real. Junto com Leticia Cazarré, ele tem cinco crianças: Vicente, Inácio, Gaspar, Maria Madalena e Maria Guilhermina. Leticia está grávida do sexto filho do casal – eles já falaram que não pensam em parar por aí. Em conversa com a coluna, Juliano conta sobre a repercussão de seus papéis dentro de casa e do desejo de escrever sobre assuntos políticos.
Seus filhos já têm noção da sua profissão? Entendem que o pai é famoso? Os pequenos ainda não. Já os mais velhos entendem que têm um pai ator, os amigos do colégio comentam e tal, mas não é uma coisa de me colocarem num pedestal por causa disso. Eles sabem que eu sou uma pessoa como qualquer outra, mas têm orgulho e acham curioso. Eu fiz muita novela das nove, muito filme forte do cinema brasileiro. Tem muito trabalho meu que eles não viram, vão ver só mais velhos, já Pantanal mostrei algumas coisas. Nas férias de julho, foram para casa do meu pai e viram escondido Tropa de Elite 1, que eu nunca tinha deixado verem. Inácio falou: ‘você parece muito pouco, pai’. Falei: ‘Claro, eu era do BOPE, estava sempre na sombra, não era para ninguém me ver’.
Têm ciúmes de você? Quando eram mais novos, o Vicente e o Inácio falavam: ‘papai, para de tirar foto’, mas agora estou muito mais tranquilo com esse tipo de situação, a gente aprende. É um susto no começo, hoje em dia eles já levam numa boa.
Artisticamente, o que você encara ainda como desafio no trabalho? Gostaria de escrever, mas não encontro essa força de vontade em mim. Isso sei que é um movimento da minha alma, que preciso melhorar, me disciplinar para sentar no computador e escrever mais. Tenho ideias, mas há dificuldade de levá-las a cabo. Um sonho da minha vida seria um dia conseguir terminar um roteiro, escrever uma peça de teatro, um livro ou fazer um projeto de cinema e produzir algo mais autoral.
Tem algo escrito? Tenho um livro de poesias, acabei de soltar um livro de poesia infantil junto com meu pai. Tem coisas que estão no computador, ideias de roteiros, mas me falta essa disciplina, que preciso encontrar.
Nestes escritos, sobre o que pretende falar? Uma das coisas que eu gostaria de falar é da luta do brasileiro contra o Estado. Um Estado que atrapalha a gente, burocrático, onde você daqui a pouco se vê num universo meio capsiano, que você tem que pagar um negócio num banco, mas aquele banco não emite a guia, a guia é no outro banco. Essa bagunça brasileira, acho que daria um bom pano de fundo para uma história.
É diferente fazer novela das 19h depois de vários papéis nas das 21h? Tive essa curiosidade na carreira, que foi fazer um monte de novela das nove seguidas. Agora estou nesse novo horário, uma novela das sete, fazendo um personagem bastante diferente de tudo que já fiz até hoje. Muito diferente do Alcides de Pantanal. Brinquei o que se o Alcides do Pantanal era um cara bruto por fora, mas com o coração de ouro, o Pascoal de Fuzuê é um cara até refinado por fora, mas o coração não vale nada, de tão ambicioso, inescrupuloso, ganancioso.
É mais gostoso um personagem assim? Não, tudo é gostoso na verdade, mas o charme é que ele é muito diferente de tudo que já tinha feito. E a gente sabe, às vezes o público já nos reconhece fazendo alguma coisa, então agarrei com muita força essa possibilidade de fazer algo diferente. Um cara que fala direito, que se veste bem, um vilão que já nasceu vilão desde o começo da novela. Está sendo um desafio muito bacana.