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Depois de ser alvo de metaleiros, Ney Matogrosso volta ao Rock in Rio

Cantor, que faz show na edição de Lisboa, recorda a ira dos fãs do metal na estreia do evento, em 1985; e diz que a cultura nunca foi tão ‘maltratada’

Por Sofia Cerqueira Atualizado em 22 jun 2022, 12h04 - Publicado em 22 jun 2022, 08h00
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  • A trajetória de Ney Matogrosso se entrelaça com a história do maior evento de música e entretenimento do país. De tanguinha de pele de onça e entoando a canção “América do Sul”, o cantor foi o primeiro artista a subir no palco do Rock in Rio, no verão de 1985, com uma apresentação que ficou marcada pela ira de um grupo de metaleiros. Trinte e sete anos depois, ele volta a fazer um novo show solo no festival. Ney, em plena forma aos 80 anos, é uma das atrações mais aguardadas da 9ª edição do evento em Lisboa, que começou no último fim de semana e se estenderá pelo próximo. Com seu poderoso vocal e eterna performance provocativa, se apresentará no palco Galp Music Valley, neste sábado, 25.

    Em entrevista a VEJA, o cantor, que chegou a Portugal nesta terça-feira, 21, garante que não ficou traumatizado com o ataque dos fãs da noite de heavy metal, mas reconhece que o fato marcou sua carreira. “Era uma noite anunciada como a do metal e, de repente, surge um cara seminu cantando ‘Deus salve a América do Sul…’. Meia dúzia de metaleiros sem educação, que estavam mais próximos ao palco, começaram a atirar ovos (cozidos) na minha direção”, descreve. Ney, enquanto seguia com a apresentação, passou a chutá-los de volta para a plateia. “Não posso dizer que esse episódio não ficou associado à minha carreira, mas também não considerei muito. Tenho consciência que foi uma reação isolada e que o resto da multidão aprovou o show. Tanto que segui com ele normalmente”, lembra.

    Ney Matogrosso também recorda que o momento político pelo qual o Brasil passava naquele longínquo 1985 é completamente diferente do que se experimenta agora. Naquela época, vale ressaltar, o país vivia um clima de esperança e grande expectativa com o processo de redemocratização. “Hoje, em todos os shows que faço, vejo uma reação agressiva ao governo vindo da plateia. Sempre há gritos de ‘Fora Bolsonaro’ e xingamentos”, relata. Embora não interfira e mantenha- se em silêncio durante as manifestações do público em suas apresentações, o cantor não esconde sua posição. “A gente vive uma situação horrorosa, atrasada, vergonhosa. A cultura nunca foi tão maltratada por um governo como agora”, enfatiza.

    Para a 9ª edição do Rock in Rio Lisboa, o artista botará seu “Bloco na Rua”, nome do show que já apresentou em algumas capitais brasileiras e que também brindará o público em terras lusitanas. No repertório, Ney interpreta músicas de Raul Seixas, Chico Buarque, Caetano Veloso, Sérgio Sampaio, entre outros. “Achei que agora seria um bom momento de voltar ao festival. Este é um show que comecei a apresentar antes da pandemia e com canções de vários cantores que gosto muito”, diz.

    Antes de pisar novamente no Rock in Rio para uma apresentação solo após aquele episódio dos fãs do metal, Ney participou de dois tributos. Em 2013, no Palco Mundo, ele emocionou o público ao cantar “Codinome beija-flor” durante uma grande homenagem a Cazuza. Quatro anos depois, o cantor subiu no Palco Sunset junto com a banda Nação Zumbi para lembrar alguns dos maiores sucessos do Secos & Molhados – banda icônica que estourou na década de 1970 e da qual Ney era o vocalista.

    * A repórter viajou a Lisboa a convite do Rock in Rio.

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