Sem contrato fixo com a Globo desde o final do ano passado, Dalton Vigh tem se dedicado ao teatro e à televisão. O ator está em cartaz com Uma Peça por Outra no Teatro Nair Belo, em São Paulo, até 30 de julho, e também gravou uma participação na quarta temporada da série nacional O Negócio, da HBO. No espetáculo dirigido por Brian Penido Ross e Guilherme Sant’Anna, ele apresenta ao lado de sua mulher, Camila Czerkes, e dos atores Ana Lys, Clara Carvalho, Felipe Souza, Lara Hassun, Paulo Marcos e Brian Penido Ross esquetes curtos do dramaturgo francês Jean Tardieu, expoente do teatro do absurdo.
Na vida pessoal, Vigh também está bastante atarefado: o ator e Camila Czerkes tiveram gêmeos em julho do ano passado – o motivo, segundo ele, de o manter fora das ruas para protestar contra a crise política brasileira. “Sobre ir para as ruas, estou com dois bebês lindos (modéstia à parte) em casa e que adoram a companhia do pai, não preciso dizer mais nada, né?”, diz ao blog VEJA Gente.
Mas o ator não se esquiva de dar seu parecer sobre os últimos acontecimentos políticos e a posição delicada do presidente Michel Temer. “Embora outro presidente afastado seja bastante turbulento para a economia e tudo mais, acho que comprovada sua culpa, ele (Temer) deve, sim, desocupar o cargo. Saindo Temer, deveríamos ter eleições diretas, por mais arriscado que isso possa parecer nesse momento”, afirma.
Confira a entrevista:
De que maneira, na sua opinião, o teatro do absurdo pode iluminar a realidade? O teatro do absurdo surgiu como uma crítica às convenções, tanto sociais quanto artísticas. É através da caricatura, do exagero e do nonsense que esse estilo estabelece a comparação com a realidade, e com isso, a reflexão sobre o mundo e o modo como vivemos.
O teatro exige mais preparação para atuar que outras plataformas? Não vejo como uma questão de mais ou menos preparação, e sim de preparações diferentes para formas de interpretação diferentes. Na frente das câmeras, a atuação é feita de forma picotada, fora de ordem, repetidas vezes e, uma vez que a cena é gravada (ou filmada), nunca mais a repetimos. No teatro, contamos, em tempo contínuo, a mesma história todas as vezes que pisamos no palco, ou seja, repetimos as mesmas cenas, na mesma ordem, em todas as apresentações, mas sem deixar que se torne apenas uma repetição. O que acontece é que, ao contrário da TV ou do cinema, caso algo saia errado ou alguém esqueça o texto, não tem como parar e começar de novo, então é preciso ter “jogo de cintura” para driblar as intempéries, afinal “o show deve continuar”…
O teatro é capaz de oferecer um debate mais inteligente que a TV? São meios de comunicação completamente diferenciados, com formatos, propostas e objetivos distintos. Sem falar de capacidade de abrangência de público. Mesmo assim, tanto na TV (e no cinema) quanto no teatro, existem as obras de arte que levam à reflexão e provocam debates e discussões, e existem os “caça-níqueis”, que só visam o lucro sem tanta preocupação com conteúdo. Acho difícil estabelecer uma comparação.
O que, na sua opinião, falta à televisão? Acho que, hoje em dia, existem tantas opções, tanto na TV aberta quanto na paga, que não falta nada. Muito pelo contrário, acho que está até sobrando…
Que papel a TV tem tido nessa crise política toda? O papel que todo meio de comunicação deveria ter, o de informar, de transmitir os fatos que são de interesse público de forma imparcial.
Você é a favor da saída de Michel Temer e de eleições diretas? Tem ido às ruas? Embora outro presidente afastado seja bastante turbulento para a economia e tudo mais, acho que comprovada sua culpa, ele deve, sim, desocupar o cargo. Saindo Temer, deveríamos ter eleições diretas, por mais arriscado que isso possa parecer nesse momento. Quanto a ir para as ruas, estou com dois bebês lindos (modéstia à parte) em casa e que adoram a companhia do pai, não preciso dizer mais nada, né?
O que pensa da ação do prefeito de São Paulo, João Doria, na Cracolândia? A Cracolândia é um flagelo social que deve ser abordado em várias frentes, de forma coordenada e em ações contínuas, não acredito que apenas expulsando as pessoas da região se consiga resolver o problema.
Você também está trabalhando em roteiros de cinema. Do que eles tratam? Ainda estou escrevendo e avançando em passos muito lentos… Tenho uma história sobre um funcionário público que se aposenta e vira figurante, outra sobre um grupo de pessoas perdidas na mata após uma tempestade e uma história de assombração, essas duas baseadas em fatos reais. E ainda tenho uma ideia para uma série sobre um grupo de amigos de faculdade em suas primeiras experiências profissionais. Talvez eu dirija o piloto (que pode virar um curta também), não tenho certeza ainda.