Quando queimaram os sutiãs defendendo os direitos femininos nos anos 60, é pouco provável que as feministas imaginaram a possibilidade de uma frase como “eu amo ser mulher” soar ofensiva. Como se sabe, no entanto, a cartilha PC mudou boa parte dos códigos existentes no século XX e, diante da declaração da cantora Adele, de 33 anos, o inevitável na era do cancelamento online aconteceu. Após subir ao palco do Brit Awards 2022 para receber o prêmio de Artista do Ano, a britânica foi alçada a nova inimiga dos direitos transgêneros pela seguinte fala:
“Eu entendo porque o nome deste prêmio mudou. Mas eu realmente amo ser uma mulher e sendo uma artista feminina, estou muito orgulhosa de nós”, afirmou Adele ao segurar a estatueta.
No último ano, o Brit Award decidiu excluir a distinção entre cantoras e cantores e criou a categoria ‘Melhor Artista’ para incluir aqueles que não se identificam nem como ele nem como ela, a exemplo de Sam Smith, que já levou o prêmio para casa e informou ao público ser uma pessoa não binária.
Para os críticos, que chegaram a chamá-la de TERF – um termo pejorativo para uma feminista que exclui os direitos das mulheres transgêneros –, o discurso de Adele foi uma ofensa direta aos não-binários.
No Twitter, um ativista dos direitos LGBTQIA+ disse: “Por favor, não, ADELE não pode ser uma TERF”. Outro usuário da rede social, no entanto, pegou menos leve com a britânica. “Eu amo Adele, mas esse comentário de ‘mulher’ soa um pouco engraçado. Artistas não binários merecem mais que isso“.
A plateia que acompanhava a premiação, entretanto, não pareceu ver maldade na colocação de Adele e a aplaudiu calorosamente durante seu discurso. Integrantes de grupos de direitos das mulheres elogiaram a fala da cantora. “Sim, as mulheres fazem parte da sociedade, 50% na verdade. Adele, você deixa todas as mulheres que conheço orgulhosas. Você é uma inspiração para muitas coisas que podem ser alcançadas”, escreveu uma fã.
Fica a pergunta: Será que depois da polêmica a linguagem neutra vai entrar para o vocabulário de Adele? A ver.