Otávio Augusto, 77 anos, comemora seis décadas de teatro com a volta aos palcos cariocas da nova temporada do espetáculo A tropa. Em cena um pai doente recebe a visita dos quatros filhos no hospital, tendo como pano de fundo os últimos 50 anos de História brasileira. Perguntando a que se deve essa atualidade tão gritante na peça, Otávio é categórico: “No Brasil nada mudou, talvez se mudou, mudou para pior. Tivemos muitos momentos que me angustiaram, mas vou citar três: a ditadura militar, o governo Collor e este atual governo da destruição. O afeto, ultimamente, é praticado apenas no microcosmo. A destruição praticada pelo sistema atual também mira no afeto”, diz.
Dono de uma das carreiras mais premiadas do país, o currículo do ator acumula sucessos distribuídos em mais de 70 filmes, 90 peças e 100 trabalhos em televisão, destacando-se as novelas Tieta (1989) e Vamp (1991), os filmes Central do Brasil (1998) e Amor Estranho Amor (1980), e espetáculos O Rei da Vela (1967) e a montagem original de A Ópera do Malandro (1978). A respeito da data redonda nos palcos, Otávio parece melancólico. “Comemora-se a alegria de uma carreira dedicada ao que se ama fazer, mas é impossível não sentir decepção e desencanto pelo estado das coisas. Nunca penso nisso (na velhice). Não é uma coisa que me assusta, mas também não é muito tranquilo não (risos). O ônus do tempo é a saúde. Mas o bônus é muito maior: o afeto, os amores, as amizades que se teve e as memórias boas”, diz. A tropa reestreia dia 1 de junho, no Teatro Petra Gold, às sextas.