O governo Lula 3 destravou. As idas-e-vindas na aprovação da reforma tributária, o empenho e/ou liberação de 7,5 bilhões de reais em emendas parlamentares em apenas três dias, o encontro de Fernando Haddad com Tarcísio de Freitas que dividiu o bolsonarismo, o anúncio formal da substituição do Ministério do Turismo, o convite de Lula para o Centrão integrar o governo, a decisão do ministro do STF Gilmar Mendes de engavetar a investigação da Polícia Federal por corrupção contra Lira — e ajudar no clima de cordialidade entre os Poderes — e a aprovação na Câmara da volta da vantagem da Receita Federal nos julgamentos do Carf fecham a semana mais produtiva do mandato e indicam um novo governo daqui para frente. Começa uma nova fase.
O governo Lula 3.2 se inicia com uma reforma no ministério montado às pressas ao meio das negociações para a aprovação do orçamento de 2023. Ministro que tem voto no Congresso fica, quem não tem pega o chapéu. Além da chegada do deputado Celso Sabino para o Ministério do Turismo, as mudanças devem incluir a Caixa Econômica Federal, os Correios, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, (FNDE) a recriação da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). O Progressistas de Arthur Lira quer o Ministério de Desenvolvimento Social, a pasta responsável pelo Bolsa Família, enquanto o Republicanos poderia ficar com os Esportes. Pedir, como se sabe, não significa ganhar, mas parte substancial dessa agenda deve ser atendida. Os ministros Alexandre Padilha e Rui Costa serão responsáveis pela incorporação do Centrão ao universo lulista.
A ideia da reforma lembra a mudança feita por Lula no primeiro governo em 2004, quando incorporou o PMDB, reposicionou o Ministério de Desenvolvimento Social, mudou a Educação e tirou da Casa Civil o monopólio da relação com o Congresso.
Com Haddad tocando a economia e uma trégua no Congresso, Lula vai se concentrar na sua especialidade, anunciar e inaugurar obras. Na segunda quinzena de julho, depois de vários adiamentos, Lula planeja relançar o programa de infraestrutura baseado com a máxima originalidade de “novo PAC”. Como o PAC dos anos 2007-10, o programa será um coletivo de várias áreas. Na energia, o governo vai financiar projetos privados de eólica, biomassa, solar e hidrogênio verde. Haverá concessões de ferrovias, aeroportos e estradas federais e dinheiro federal para construção de escolas. Ainda em julho, o governo relança outro ícone dos anos lulistas, o “Minha Casa, Minha Vida”, com a projeção de contratar 2 milhões de casas em três anos.
Em agosto, o governo lança um ambicioso projeto de transição ecológica com foco na regulação do mercado de carbono, inspirado no modelo da União Europeia. Os setores alvo são as indústrias mais poluentes: siderurgia, cimento, metalurgia e indústria química.
Lula 3.2 vai ser seguir sendo um globe-trotter. O jornal digital Poder360 informou que ainda neste mês, Lula pretende se reencontrar com o papa Francisco para lançar uma campanha mundial contra a fome. O presidente quer atrair líderes religiosos de várias denominações para lançar a versão nacional do projeto.
A junção de um programa mundial contra a fome e um projeto ambicioso de transição ecológica no Brasil asseguram a Lula um holofote global para além da sua, até agora, fracassada tentativa de trégua na guerra da Ucrânia. O Brasil assumiu na semana a presidência do Mercosul e terá seis meses para tentar salvar o acordo comercial com a União Europeia. Em novembro, o Brasil assume a presidência do G-20, o núcleo dos países mais ricos do mundo, e organiza em 2024 a conferência no Rio. Em 2025, o Brasil será a sede do COP-30, em Belém, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas.