É difícil a vida do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. Suplente de senador, candidato derrotado à prefeitura de Natal, consultor do setor de petróleo, Prates foi escolhido pessoalmente por Lula com a missão de “abrasileirar” os preços dos combustíveis e transformar a Petrobras num dos braços dos investimentos públicos. Lula queria um novo José Gabrielli, que dirigiu a empresa de 2004 até 2011. Só que os tempos são outros.
Desde que Prates implantou um novo cálculo de preços dos combustíveis, a Petrobras baixou o repasse três vezes. Só que não dá mais. O preço internacional sobe há seis semanas e a Arábia Saudita e a Rússia anunciaram reduções nas suas vendas. Pelas planilhas que só levam em conta a paridade com os preços internacionais, a defasagem da gasolina no Brasil está acima de 20%. Nas contas internas da Petrobras, que incluem os custos de produção brasileiros, a diferença estaria em 13%.
Na quarta-feira 2, Prates esteve com Lula. Na reunião no Palácio do Planalto com diretores e outros ministros, eles discutiram a participação da Petrobras no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que será lançado na sexta-feira, no Rio de Janeiro. Antes do encontro com testemunhas, conforme Lula relatou a dois ministros, o presidente pediu que a Petrobras segurasse os preços “até onde desse”. Em entrevista à Broadcast depois da reunião em Brasília, Prates disse que “pode ser que lá na frente eu tenha de chegar e dizer que vá aumentar, mas não vamos aumentar agora, estamos confortáveis com a volatilidade (dos preços internacionais). Se o preço se estabelecer em outro patamar, vamos ponderar e fazer o reajuste necessário”. Por repetidas vezes, Prates negou que o presidente tenha pedido pelos preços “durante a reunião”, o que é verdade.
Se os preços internacionais se mantiverem nos atuais níveis, a pressão sobre Prates vai se multiplicar. Ao mesmo tempo, será grande a pressão política para que Prates não conceda um reajuste que cubra toda a defasagem.
Este está sendo o primeiro teste de Prates como presidente da Petrobras e ele está perdendo. Mais importante do que o índice do reajuste será acompanhar quais as medidas que ele tomará no difícil equilíbrio entre o Palácio do Planalto e o mercado. No governo Bolsonaro, quatro presidentes da Petrobras foram trocados por não conseguirem manter esse equilíbrio.
Nos seis meses como presidente da Petrobras, Prates não fez nenhum amigo novo e já brigou publicamente com os ministros de Minas e Energia (que quer a Petrobras investindo em gás), da Casa Civil (sobre nomeações na estatal) e Meio Ambiente (sobre a proposta de explorar petróleo na Amazônia). Em várias ocasiões nas últimas semanas, Lula reclamou da “arrogância” de Prates e de como ele teria mudado sua postura depois de virar CEO.
A fraqueza política de Prates chegou ao ponto de o seu nome ser citado na atual reforma ministerial, o que não vai acontecer. Essa garantia, no entanto, não é para sempre. Se Prates mantiver o isolamento político, torna-se alvo fácil na troca no início do ano que vem, na tradicional reforma ministerial antes das eleições municipais. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, já se ofereceu para o cargo.