Luiz Inácio Lula da Silva lidera todas as pesquisas eleitorais e seria eleito presidente pela terceira vez com mais 15 milhões de votos de diferença se as eleições fossem neste ano. Só que não são. Faltam mais de 400 dias até o segundo turno de 2022 e qualquer avaliação ligeira da história recente mostra que não existe passeio em disputas presidenciais.
Em 1994, FHC venceu no primeiro turno porque o Plano Real deu certo e quem estava lá sabe que o contexto era complexo, incluindo uma delicada troca de ministro da Fazenda no meio da eleição. Em 1998, FHC foi reeleito no primeiro turno sabendo que o Brasil estava prestes a quebrar, mas sem que o eleitor tivesse a dimensão do terremoto que viria em seguida. Em 2006, Lula começou atrás, virou, ganhou dianteira, chegou a sofrer um calor de Geraldo Alckmin na virada do primeiro para o segundo turno depois que a Polícia Federal apreendeu uma mala de dinheiro com petistas, mas depois ganhou por 20 milhões de votos. Vistas pelos olhos de hoje, as três disputas parecem consagradoras, mas tiveram sobressaltos que poderiam ter mudado a história. Com Bolsonaro na disputa de 2022, sobressalto é que não vai faltar.
Quanto mais perto estiver de perder, mais Bolsonaro vai usar a intimidação do Exército, das Polícias Militares, das milícias, dos caminhoneiros e das manifestações pagas pelo agro para mostrar que não entregará o poder pacificamente. Se perder nas urnas, Bolsonaro terá ainda os meios e a oportunidade para tentar uma quartelada que mele o resultado da eleição e impeça a posse de um adversário. Se perder, a malta de bolsonaristas que se pendurou nos cargos públicos vai sabotar o novo governo. Hoje é mais fácil para Lula vencer as eleições do que tomar posse e, depois disso, governar.
Bolsonaro tenta repetir como presidente uma nova versão da Arena, o partido que sustentou a ditadura. Essa nova Arena contém os caciques políticos avós dos atuais líderes do Centrão, a força conservadora do agro, o capital financeiro e o poder intimidador das armas militares. A novidade é Bolsonaro ter o apoio quase unânime das lideranças das denominações evangélicas pentecostais e dispor apenas de parte da mídia.
Para derrotar essa nova Arena bolsonarista vai ser preciso um novo MDB. O antigo era uma frente de oposição consentida que incluía oligarquias sem espaço nos arranjos regionais, desiludidos do regime militar, intelectuais, sociais-democratas e comunistas liderados por políticos cautelosos como Ulysses Guimarães e Franco Montoro que haviam votado pela posse do marechal Castello Branco em 1964. O novo MDB precisará ser tão amplo quanto o antigo.
Em périplo pelo Nordeste desde o dia 15 até amanhã, Lula tem feito o que faz de melhor, política. No Recife,onde o PSB e o PT travaram uma das campanha mais sujas do País na disputa pela prefeitura, falou com os líderes dos dois partidos, mais políticos do PP, Republicanos e PSD. Em São Luís, Lula se encontrou com o governador Flávio Dino (PSB), a ex-governadora Roseana Sarney (MDB), e os candidatos a governador Weverton Rocha (PDT) e Carlos Brandão (PSDB). Em Fortaleza (20/08), se encontrou com Cid gomes (PDT), Tasso Jereissati (PSDB) e Eunício Oliveira (MDB). Em Teresina, Lula se encontrou com mais aliados do ministro da Casa Civil de Bolsonaro e seu ex-aliado, Ciro Nogueira, e falou sobre os contatos com políticos do Centrão. “O Centrão não vai agir enquanto partido político durante o processo eleitoral, porque cada partido vai priorizar a sua tribo no seu estado. Estou cansado de ver candidatos a presidente da República serem rifados”. O candidato investe em uma nova frente política, mais ampla do que a que a pode ajudá-lo a ser eleito, porque agora não basta vencer a eleição. É preciso tomar posse e governar assegurando uma nova estabilidade política.