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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Os candidatos a uma viagem a Paris

Relançamento da candidatura de Eduardo Leite mostra o fracasso das opções da direita não-bolsonarista

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 16 fev 2022, 12h42

As más notícias para a direita não-bolsonarista não chegam sozinhas. Desde novembro, quando Sergio Moro se lançou candidato e João Doria venceu a convenção do PSDB, as pesquisas mostram um gráfico impávido. Em votos válidos, Lula da Silva gira nos 48%, na beira de uma inédita vitória no primeiro turno. Jair Bolsonaro se consolidou nos 25% de votos válidos, mas tem o Auxílio Brasil e os bilhões de emendas parlamentares para garantir um crescimento. Ciro Gomes voltou o prumo para a esquerda e parou de cair. A direita não-bolsonarista não sai do lugar. Todos somados, não dão 15% dos votos válidos. Parecem candidatos a comprar uma passagem para Paris quando o segundo turno chegar.

É um cenário de desespero para essa fatia do eleitorado, batizada de “terceira via”. Na semana passada, o PSD convidou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, a se filar ao partido e assumir a candidatura a presidência, depois do desinteresse do senador Rodrigo Pacheco. Leite, que perdeu as prévias do PSDB para Doria, parece animado, mas o seu sentimento não é contagioso. Até novembro, Leite não chegava a 3% das intenções de voto. Nada indica que esse cenário mudou.

Empresários e políticos também voltaram a procurar Luiza Trajano tentando convencê-la a mudar de ideia e se lançar candidata. Ela segue firme em não entrar na política partidária. Balões de ensaio como os dos senadores Simone Tebet, do MDB, e Alessandro Vieira, do Cidadania, sequer tem apoio dentro dos seus partidos. A possibilidade de todos virarem coadjuvantes na campanha cresce a cada semana.

Pesquisa do ano passado da Quaest mostrou que o público que prefere não votar nem em Bolsonaro, nem em Lula chega perto dos 20%, e está concentrado no Estado de S. Paulo e na região Sul. Parte desses eleitores se encaminhou para Sergio Moro, mas os seguidos percalços da candidatura do ex-juiz indicam que a candidatura tem mais ônus do que bônus. Moro não conseguiu se infiltrar dentro dos bolsonaristas arrependidos e ainda não explicou de forma convincente os R$ 3,5 milhões que recebeu de uma consultoria americana. Embora governe o Estado com 20% do eleitorado brasileiro,

João Doria segue disputando a rabeira das pesquisas com o exótico deputado André Janones. A melhor performance de Doria é vazar na mídia que até junho Moro, Vieira e Tebet vão se unir numa candidatura única, a dele.

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O primeiro erro de Moro, Doria, Tebet, Leite, Vieira, Pacheco e seus estrategistas é acreditar que existe uma demanda nas ruas por um nome alternativo a Lula e Bolsonaro. Não há. Dois de cada três brasileiros já decidiram votar em Lula e Bolsonaro e para serem convencidos a mudar de ideia vão precisar mais do que apenas um nome abençoado pelos editorialistas de jornais, traders da avenida Faria Lima e indignados das correntes de WhatsApp. Esses confundem a sua aversão à opção Lula-Bolsonaro com a do resto da população.

O segundo erro é imaginar que existe tempo de sobra para construir uma candidatura. Mesmo no século 20, as candidaturas surgidas no último ano tiveram fatores inéditos, como um apoio gigantesco de comunicação (caso de Fernando Collor, em 1989) ou um plano econômico (como FHC, em 1994). Depois disso o que viabilizou os candidatos foi trabalho. Lula havia perdido três eleições até se reconstruir em um novo personagem em 2022. A imagem de Dilma Rousseff foi arquitetada desde 2008 para ela ser lançada com a continuação de Lula, em 2010. Bolsonaro iniciou sua campanha em 2015 e na virada de 2017 para 2018 já era o político com mais engajamento nas redes sociais. Moro, Doria, Tebet, Leite, Vieira e Pacheco perderam tempo.

O terceiro erro é não perceber que Lula está sendo normalizado por parte da elite e que, portanto, o discurso da equivalência entre a extrema direita e a centro-esquerda não se sustenta. O PT preparar um programa de esquerda, mas é difícil imaginar um governo de rupturas quando o candidato a vice é Geraldo Alckmin, o PSD de Kassab vai participar do eventual governo e Roberto Campos Neto vai ficar na presidência do Banco Central. Na prática, é possível que o programa econômico de Ciro Gomes represente uma ruptura maior do que o de um terceiro governo Lula.

A terceira via quer recomeçar o jogo eleitoral sem ter um nome popular, um programa que atenda o interesse dos mais pobres e com uma avaliação preguiçosa de que os eleitores só prestam atenção no voto quando chegar setembro. É a receita para uma viagem para Paris.

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