O presidente Jair Bolsonaro participa nesta quinta-feira, 22, do encontro de líderes mundiais sobre mudanças climáticas no papel de o homem mais odiado do planeta. Uma campanha nas redes sociais patrocinada por ONGs ambientais e indígenas, com apoio entusiasmado de políticos, artistas e cientistas aponta Bolsonaro como a ameaça direta ao futuro da Amazônia e, no longo prazo, à estabilidade climática mundial. Será a primeira vez que Bolsonaro se encontra, ainda que virtualmente, com o presidente americano Joe Biden.
Desde Osama bin Laden nos atentados a Nova York em 2001 não se assistia um movimento tão uníssono de tantas personalidades diferentes e de tantos países distintos personificando em um líder internacional um mal tão assustador para o futuro da humanidade. Se bin Laden era apresentado como o cérebro por trás de uma rede de terrorismo, Bolsonaro é mostrado como o presidente que chantageia o mundo ao exigir um resgate para não destruir a maior reserva de floresta tropical.
O histórico de Bolsonaro permite essa comparação. Em pouco mais de dois anos, Bolsonaro governou com um aumento recorde no desmatamento ilegal, no tráfico de madeiras e no garimpo em terras indígenas. Desde 2019, perdeu-se um território de florestas equivalente a Israel sem que ninguém fosse punido. Quando os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostraram um recorde no desmatamento, Bolsonaro demitiu o diretor. Quando um delegado acusou o ministro do Meio Ambiente de fazer lobby a favor de madeireiros, também foi demitido. O ministro acusado, Ricardo Salles, segue sendo um dos preferidos do presidente.
Contra Osama bin Laden, os EUA invadiram o Afeganistão e mantiveram sua mais longeva operação de guerra na história. Contra Bolsonaro, a pressão será mais suave, mas virá. “Para os EUA existe um custo alto em enfrentar a China ou a Rússia, mas brigar com o Brasil é barato. O Bolsonaro transformou o Brasil num país temido por propagar a Covid-19 e odiado por não cuidar da Amazônia”, disse um diplomata que participou das negociações entre EUA e Brasil por um acordo prévio ao encontro de hoje.
Oficialmente, a posição do governo Biden será “esperar para ver”resultados reais de combate ao desmatamento e queimadas no governo Bolsonaro para, só então, abrir negociações para financiar projetos de preservação na Amazônia. É pura procrastinação. Os dois lados sabem que o compromisso do bolsonarismo com a Amazônia é igual ao de Osama bin Laden com as torres gêmeas de Nova York.
O que Biden faz é comprar tempo para entender as propostas dos adversários de Bolsonaro e esperar que em 2023 tome posse um governo minimamente responsável ambientalmente. Afinal, ninguém gosta de negociar com terroristas.