O mais espantoso na escalada bolsonarista do Sete de Setembro é que ela não faz sentido político. As pesquisas estão mostrando um avanço lento, mas inequívoco na aprovação do governo que, em algumas semanas, deve desaguar em pontos para Jair Bolsonaro.
Na terça-feira (09/08) começou a ser pago o Auxílio Brasil de R$ 600 para mais de 20 milhões de famílias, mais o adicional de R$ 110 do Vale Gás para 5,6 milhões de famílias e os R$ 1.000 de vale para 900 mil caminhoneiros. Ao mesmo tempo, o governo autorizou que as financeiras ofereceram empréstimos de até R$ 2.600 para quem recebe o Auxílio Brasil. Os juros são de 78% ao ano, mas as parcelas só começam a ser pagas em outubro depois do primeiro turno. Nunca um governo despejou tanto dinheiro às vésperas da eleição.
Supor que esse dinheiro de helicóptero não terá efeito no humor do eleitorado é ingenuidade. A questão é entender o limite dessa troca de votos por dinheiro. Na última pesquisa Genial/Quaest, 57% acham que as medidas foram tomadas apenas para ganhar a eleição e 38% acreditam que são uma tentativa de melhorar a vida das pessoas. Parece pouco, mas não é. 38% é mais do que o suficiente para Bolsonaro chegar ao segundo turno. No geral da pesquisa, Bolsonaro tem 32% e Lula 44%; entre os eleitores que recebem o Auxílio, Lula 52% x 29% Bolsonaro.
Na terça-feira também, o IBGE anunciou que a inflação de julho foi negativa de 0,68%, resultado direto do corte de impostos dos combustíveis.
Na lógica política, a tendência de um segundo turno deveria fazer com que Bolsonaro amainasse o seu discurso mais radical. O eleitor que acha que o Brasil vai virar um país comunista ou ter o aborto legalizado se Lula da Silva ganhar as eleições já está convencido a votar em Bolsonaro. Só que os eleitores que não votam nem em Lula, nem em Bolsonaro no segundo turno se assustam com o radicalismo sem limites. Num eventual segundo turno, segundo a Genial/Quaest, Lula vai de 44% para 51%, enquanto Bolsonaro sai de 32% e vai apenas até 37%. O índice de rejeição a Bolsonaro segue sendo o mais alto entre os candidatos. 55% dizem que não votariam no presidente em qualquer hipótese, ante 44% em Lula.
Bolsonaro tende a subir nas pesquisas com a queda nos preços e alta no Auxílio Brasil, mas só ganha no segundo turno se amainar o discurso. O dinheiro do helicóptero não é suficiente.