Enquanto assiste a 4 mil mortes por Covid por dia boicotando as medidas de prevenção, inventa uma nova briga com o Supremo para distrair sua militância chucra e estoura o teto de gastos para manter seu apoio no Congresso, Jair Bolsonaro desperdiça sua única chance de remontar as relações com os Estados Unidos de Joe Biden. O prazo vai até o dia 22, Dia da Terra, quando Biden reúne 40 líderes mundiais para debater ações práticas para reduzir e mitigar o efeito das mudanças climáticas nas próximas décadas.
As negociações entre os representantes de Brasil e EUA começaram em fevereiro e estão em um impasse. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acredita que pode enrolar os americanos prometendo reduzir os índices de desmatamento se antes receber U$ 1 bilhão. Ele opera como se tivesse sequestrado a Amazônia e exigisse um resgate para não matar o refém.
Só que não vai funcionar. Em conversa recente com a nova equipe diplomata brasileira, os americanos deixaram claro que “não haverá uma segunda chance”. Ou o Brasil apresenta uma proposta factível no dia 22 ou os EUA seguirão seu projeto com Colômbia, Peru e outros países.
O sinal desse isolamento está sendo dado agora na primeira viagem de um diplomata sênior do governo Biden à América do Sul. O diretor para Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional, Juan Gonzales, excluiu o Brasil do seu roteiro que inclui Colômbia, Argentina e Uruguai para discutir combate à pandemia, proteção ao meio ambiente e investimentos americanos no continente. É mais um feito do governo Bolsonaro que o Brasil seja ignorado nesses temas pelos EUA.
Desesperados com a falta de seriedade do governo Bolsonaro nas negociações, 22 governadores prepararam uma carta de compromissos de preservação ambiental para tentar uma negociação paralela com os EUA, como informou a repórter Daniela Chiaretti, do Valor. Grandes empresas se reuniram no grupo chamado Concertação pela Amazônia e apelaram ao embaixador americano em Brasília, Todd Chapman, para alguma saída que não prejudique as exportações brasileiras caso Bolsonaro siga ignorando a realidade. A resposta de Chapman foi “pressione o seu governo a agir”.
Em menos de três meses no cargo, Biden mostrou que tem pressa e pouco tempo para lero-lero. Tratorou os republicanos para aprovar um pacote trilionário de auxílio aos pobres, anunciou o maior pacote de incentivo à indústria renovável e investimentos em infraestrutura em 50 anos e vai pagar a contar aumentando a taxação dos mais ricos. Seu programa ambiental é ambicioso e vai em frente com ou sem o Brasil. Só que o prazo está terminando. Aos empresários, Chapman foi direto: “As relações entre nossos países dependerão muito dessa postura ambiental do Brasil”.
No dia 22, Biden anunciará um pacote de longo prazo de US$ 10 bilhões em troca de uma redução substancial e comprovada no desmatamentos e queimadas, projetos sustentáveis de renda para as populações ribeirinhas, respeito às terras indígenas e fim do garimpo ilegal. É exatamente o contrário da gestão do ministro Salles, que em dois anos conseguiu que um território de floresta amazônica do tamanho de Israel fosse derrubado, paralisou o maior programa de conservação da biodiversidade da história, o ARPA, sucateou o Ibama, boicotou o monitoramento por satélite do INPE e se orgulha de defender interesses de madeireiros e garimpeiros. Embora seja de longe o pior ministro do Meio Ambiente da história, sempre é preciso lembrar que Salles apenas cumpre ordens de Bolsonaro.