Pesquisas eleitorais com dois anos de antecedência servem menos como projeção de futuro do que como um diagnóstico do presente. O recorte da pesquisa Genial/Quaest indicando que, pela primeira vez, a maioria da população não acha que o presidente Lula da Silva merece a reeleição é um indicador da dificuldade do seu terceiro mandato. Para Lula, a boa notícia é que ele tem dois anos para melhorar a sua aprovação. A má notícia é que se ele não mexer logo na forma de governo (incluindo uma profunda reforma ministerial) pode ser tarde demais.
Ao longo da campanha eleitoral de 2022, a pergunta sobre o “merecimento” foi um dos melhores preditores das chances de Jair Bolsonaro se reeleger. Como expliquei junto com Felipe Nunes no livro Biografia do Abismo, duas perguntas eram as mais relevantes para entender a evolução da disputa do que o simples “em quem você votaria”: a do merecimento e a do medo. Ao responder as perguntas “Bolsonaro e Lula merecem uma segunda chance”, a maioria dos eleitores dizia que Lula fazia jus a um terceiro mandato (ele começou com 55% de taxa de merecimento em janeiro de 2022 e variou para 52% às vésperas da eleição). Foi Bolsonaro, contudo, quem melhor soube mexer com esse sentimento. Em janeiro de 2022, apenas 35% dos eleitores diziam que ele merecia a reeleição. No fim de semana do segundo turno, eram 49%. A taxa de merecimento foi fiel ao resultado efetivo das urnas (51%x49%).
É notável que o Lula, eleito em outubro de 2022 com 52% da população afirmando que ele “merecia” voltar à Presidência, tenha agora só 42% que acham que ele tem direito à reeleição em 2026. Se isso não tocar os alarmes do Palácio do Planalto, nada tocará.
Ao perguntar sobre o conhecimento, rejeição e potencial de votos de nove políticos, a Genial/Quaest mostrou o poder de Lula e a força da oposição. 47% dos eleitores dizem que votariam no presidente, enquanto 49% se recusariam. A mais bem colocada na oposição, a primeira-dama Michele Bolsonaro, tem 33% de voto potencial, mas uma rejeição de 50%. Tanto Lula quanto Michelle são conhecidos pela vasta maioria dos brasileiros. Já o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tem 28% de voto potencial, 30% de rejeição e 39% de desconhecimentos.
Numa eventual disputa mano a mano entre Lula e Tarcísio, o presidente venceria por 46% a 40%, com um cenário similar ao de 2022: Lula venceria com os votos do Nordeste, mulheres, mais pobres, católicos e mulheres. Tarcísio no Sudeste, Sul e Centro-Oeste, homens, ricos e evangélicos. A polarização vista em 2022 se confirma com a pergunta sobre o poder de transferência de Bolsonaro: 85% dos eleitores do ex-presidentes votariam no governador se ele fosse escolhido o seu candidato.