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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Exclusivo: O que a pesquisa encomendada pelo PT ensina ao PT

Retrato dos valores brasileiros mostra o risco das fake news, condenação à Bolsonaro e memória da corrupção nos anos petistas

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 mar 2022, 14h39 - Publicado em 10 mar 2022, 16h35
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  • Pesquisas qualitativas encomendadas pela Fundação Perseu Abramo, o braço acadêmico do PT, sobre o perfil do eleitor mostram que difusão de Fake News será o grande desafio das eleições de outubro. A postura dos entrevistados _ eleitores sem vinculação partidária, de 18 a 50 anos, com renda de até 2 salários mínimos dos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Goiás e Amazonas _ pode ser resumida na frase de um deles: “se todo mundo está falando, é porque é verdade”.

    As pesquisas, coordenadas pelos professores da Fundação Escola de Sociologia e Política (FESP/SP) Isabela Kalil e William Nozaki, selecionaram eleitores que já votaram no PT e também em Bolsonaro, e hoje ainda analisam as candidaturas para definir seu voto. “São eleitores pragmáticos, preocupados com as contas a pagar. Se orgulham de se definirem como ‘trabalhadores’, e aqui a palavra não é uma definição de classe, mas um atributo de valor”, disse Kalil. Os entrevistados têm um a autoimagem (de si e do brasileiro de modo geral) de serem batalhadores, fortes e persistentes. A resiliência, a capacidade de “sou brasileiro não desisto nunca”, é um atributo pessoal e nacional.

    Como seria de se esperar, os entrevistados repudiam as Fake News e dizem nunca repassa-las, mas os seus critérios de diferenciação do que é e do que não é verdade são elásticos. Uma descoberta da pesquisa é a recuperação da importância da TV como fonte de credibilidade. “Se deu na TV tem mais peso”, disse um dos entrevistados. O “deu na TV” neste caso inclui não apenas os telejornais, mas também a opinião dos apresentadores de entretenimento.

    Preocupados com o bolso, esses eleitores pragmáticos desaprovam o governo Bolsonaro por ampla maioria. Responsabilizam o presidente pela volta da inflação, criticam sua postura antivacina e consideram que seu governo não os beneficiou. Mas isso não significa que esses são votos perdidos para o presidente. Os brasileiros, mostra a pesquisa, são eleitores complexos.

    As rodadas de conversas foram realizadas em novembro, pouco depois do lançamento da candidatura do ex-juiz Sergio Moro, dois meses depois da campanha bolsonarista de fraude nas urnas no ataque ao Supremo Tribunal Federal, num momento que se imaginava que a epidemia de Covid estava perto de acabar e que a inflação de alimentos estava no auge. Essa conjuntura influenciou o humor dos entrevistados, mas há conclusões de longo prazo.

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    Alguns tópicos:

    Imagem do PT – Uma das intenções do estudo da Fundação foi compreender o peso do antipetismo entre os eleitores independentes. A conclusão é que a rejeição diminuiu, mas a corrupção segue sendo uma mancha forte na imagem do partido.

    “Esse eleitor deseja a continuidade do projeto de governo iniciado pelo PT – comprometido com pautas sociais e políticas públicas – mas ainda mostra desconfiança em relação ao partido. Os benefícios trazidos pelos governos Lula são amplamente reconhecidos, especialmente entre os mais velhos. Mas, as denúncias de corrupção ainda se fazem presentes e comprometem – para parte desse eleitorado – a imagem do PT como porta-voz e defensor dos interesses do povo”, diz o estudo.

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    Imagem de Bolsonaro – “Sua conduta durante a pandemia costuma ser duramente criticada e apontada como fator que contribuiu para o agravamento ou prolongamento da pandemia no País. Por outro lado, os problemas econômicos de sua gestão são atribuídos ao mau gerenciamento de sua equipe de governo, já que ele próprio não teria capacidade de interferir nesse assunto”, escrevem os pesquisadores.

    Um dado interessante: os entrevistados não vinculam Bolsonaro à corrupção, mas sim seus filhos. “Acho que ele é meio doido. Corrupto não. As ideias dele não bate, sabe? Acho que os filhos dele sim, viu? Ah, a gente vê reportagem direto do filho dele lá, o Flávio, negócio de dinheiro, essas coisas”, disse uma entrevistada.

    Crise – Essa parcela do eleitorado não atribui responsabilidades pela crise a um agente único – seja Lula, Dilma, PT ou Bolsonaro – visto que ela é fruto de um processo que vem de muitos governos. As críticas se direcionam ao sistema político como um todo, a todo os partidos.

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    Governo Lula – “Reconhece ter havido breve período de prosperidade econômica nos governos Lula – grandes avanços sociais, maior acesso a consumo, emprego e políticas públicas voltadas ao povo. A crise enquanto regra teve aqui seu momento de suspensão – visão presente, inclusive, entre críticos do PT”

    Imagem de Sergio Moro/Lava Jato – “Para a maior parte dos entrevistados, suas ações sempre foram interessadas: foi oportunista ao ingressar no governo Bolsonaro, levantando suspeitas de que seu interesse sempre foi ganhar projeção política. Foi ideológico e parcial ao atuar como juiz e acusador. A operação é, no geral, bem avaliada e vista como necessária para desmantelamento de um amplo esquema de corrupção envolvendo diversos agentes e partidos. Porém, sua execução e resultados tendem a ser criticados”.

    Candidato ideal – Com o PT ainda manchado pelas denúncias de corrupção e Bolsonaro considerado despreparado e insensível, este eleitor independente ainda está indeciso. “Ele almeja representantes comprometidos com a honestidade para levar adiante os avanços econômicos e sociais iniciados pelo PT”, diz o estudo.

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