O departamento de Estado americano deu aval ao alerta do ex-diplomata Scott Hamilton de que o presidente Jair Bolsonaro pode tentar uma ruptura institucional caso perca as eleições em outubro. Artigo de Hamilton publicado em em 29 de abril no jornal O Globo defende enfaticamente que o governo Joe Biden alerte Bolsonaro de que a não aceitação de uma eventual derrota teria consequências diplomáticas e sanções comerciais.
Na quinta-feira (5/5), a agência Reuters publicou reportagem afirmando que, em visita ao Brasil em 2021, o diretor da CIA, Willian Burns, ressaltou aos ministros generais Augusto Heleno e Luiz Ramos que presidente Bolsonaro deveria parar com as críticas ao sistema eleitoral brasileiro. Bolsonaro, como se sabe pela tentativa de intervenção ao Supremo Tribunal Federal no último 7 de Setembro, ignorou o recado americano.
Cópias do artigo de Hamilton foram distribuídas por diplomatas americanos a executivos de multinacionais com negócios no Brasil. Um desses executivos me disse que compreendeu o gesto como um apoio implícito aos alertas e que uma contestação de Bolsonaro nos moldes do que Donald Trump tentou em 2020 poderia tornar o Brasil “numa nova Rússia, com os investidores fugindo às pressas para evitar sofrerem sanções”, se referindo às sanções impostas desde a invasão da Ucrânia.
Ironicamente, a conturbada relação dos governos Biden e Bolsonaro atravessa o seu melhor momento. Apesar das bravatas de Bolsonaro, o Brasil tem votado na maioria das vezes com os EUA e a Ucrânia e contra a Rússia no Conselho de Segurança da ONU. Existem conversas para que os dois presidentes se encontrem na esvaziada Cúpula das Américas, marcada para junho em Los Angeles. Bolsonaro informou ao Itamaraty que não pretende ir.
Um dos mais importantes diplomas para América Latina no governo Obama, Hamilton foi cônsul no Rio de janeiro entre 2018 e 21. Em entrevista à National Public Radio, ele disse que por duas vezes alertou o então embaixador americano em Brasília, Todd Chapman, sobre a necessidade de uma atitude americana sobre Bolsonaro. Foi ignorado. Em julho do ano passado, quando deixou o posto, Hamilton distribuiu um documento para várias autoridades. Como Chapman já não era mais embaixador, a resposta foi mais atenta.