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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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É a economia, Lula, mas não a da Faria Lima

Campanha do PT prioriza ataques a Bolsonaro ao invés de propostas para o bolso do eleitor

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 out 2022, 11h00
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  • Dias atrás, o jornal Folha de S.Paulo publicou um editorial na primeira página com o título “É a economia, Lula!”, defendendo que o candidato do PT só não havia vencido no primeiro turno porque se recusa a abraçar as reformas pró-mercado da avenida Faria Lima. A premissa estava errada, o raciocínio era obtuso, o texto confuso e a conclusão broca. Mas o título estava certo: é a economia, Lula, só que não a da Faria Lima.

    A vantagem de Lula da Silva sobre Jair Bolsonaro está encurtando a cada semana nas pesquisas por um erro na avaliação de conjuntura do PT. No primeiro semestre, quando a campanha foi planejada, era óbvio supor que o cenário econômico de inflação alta, queda na renda e falta de perspectiva tornaria moribunda a candidatura Bolsonaro. Só que o que era verdade em 20 de julho, não é mais verdade em 20 de outubro.

    O limite dos impostos estaduais sobre os combustíveis derrubou a inflação e reduziu o ritmo da alta de preços. O mercado de trabalho melhorou e, pela primeira vez em sete anos, o índice de desemprego ficou abaixo de 10%. A guerra na Ucrânia causou um pequeno boom nas commodities e o país vai quebrar o recorde de exportações. O Auxílio Brasil de R$ 600 aliviou a vida dos miseráveis e movimentou o comércio na baixa renda. O crescimento do PIB está acima do projetado e o controle de preços dos combustíveis via Petrobras vai manter a inflação baixa até a eleição.

    Ah, tudo isso faz parte de uma maquiagem populista que não tem fôlego para se manter em 2023! É verdade, mas vou contar um segredo: o eleitor não está aí para macroeconômia. Ele sente que a vida melhorou e isso se reflete na melhora da aprovação do governo, na redução da rejeição de Bolsonaro e, no limite, no estreitamento da margem entre os dois candidatos. Economia é o que se sente, não um índice que sai nos jornais.

    Lógico que este é um resumo simplista para uma problema complexo. Nunca a máquina federal foi usada de forma tão ostensiva em uma campanha e a avalanche de fake news da militância bolsonarista está maior do que foi em 2018. Mas sem acertar o diagnóstico na economia, não tem como Lula falar o que o eleitor quer ouvir.

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    A propaganda de rádio e TV do PT aposta em duas linhas: (a) lembrar os bons tempos dos governos Lula e (b) aumentar a rejeição de Bolsonaro com uma campanha negativa que começou com satanismo, passou por canibalismo e está agora em pedofilia. Os resultados desta tática são, no mínimo, ineficientes.

    A campanha do PT prioriza ataques a Bolsonaro ao invés de propostas para o bolso do eleitor. Há quatro promessas do programa da chapa Lula-Alckmin que vão nesta linha:

    · Garantia do Auxílio Brasil de R$ 600, com extra de R$ 150 para famílias com filhos em idade escolar

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    · Aumento do salário mínimo acima da inflação

    · Programa de renegociação de dívidas com garantias do governo

    · Aumento da faixa de isenção do imposto de renda até R$ 5 mil

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    Nenhuma dessas propostas atende as curiosidades dos investidores da Faria Lima, interessados corretamente em saber de onde vai sair o dinheiro para bancar essa generosa política social. Mas os eleitores da Faria Lima estão tão embarcados no navio bolsonarista que vão achar defeito mesmo que Lula anuncie Henrique Meirelles ou Armínio Fraga no time econômico. Não se governa sem o mercado financeiro, como se viu em 2015 e 16, mas a bolsa de valores não ganha eleição, como mostra o fracasso da votação da senadora Simone Tebet.

    O eleitor vai às urnas movido por um misto de emoção e racionalidade. Valores, ódios e esperanças são sentimentos que ajudam a escolher um ou outro, mas para milhões de brasileiros é o bolso que dá a palavra final.

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