Duas pesquisas divulgadas nesta semana revelam o tamanho da queda da popularidade do presidente Jair Bolsonaro com a redução do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300. A primeira, do DataPoder, mostra que em seis semanas, a aprovação de Bolsonaro caiu de 52% para 42%, enquanto a rejeição ao governo subiu de 41% para 48%. A tendência de derretimento de Bolsonaro é constante desde outubro. É como se estivemos assistindo à movimentação de placas tectônicas.
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De acordo com a pesquisa, Bolsonaro hoje é tão impopular entre os brasileiros que recebem mais de dez salários mínimos quanto Dilma Rousseff e Michel Temer em seus piores momentos. 83% dos mais ricos rejeitam o presidente – incríveis 40 pontos porcentuais a mais que na pesquisa de 14 de outubro. Bolsonaro ainda é rejeitado pela maioria dos jovens até 24 anos (58%), os moradores do Sudeste (55%) e aqueles com curso universitário (56%). As coisas também estão ruins entre os mais pobres: 50% dos brasileiros sem renda desaprovam o governo, ante 31% em outubro. Entre os que estudaram até o ensino fundamental, a impopularidade de Bolsonaro subiu de 29% para 46%. São os piores resultados desde junho, quando o presidente incentiva boicote às quarentenas da Covid-19 e ameaçava intervir no Supremo Tribunal Federal.
Para entender os números é preciso olhar uma segunda pesquisa, esta do Banco Central sobre a inflação por faixa de renda. O preço do arroz e do feijão subiu 30% até novembro, mas o que essa pesquisa mostra é como essas altas se refletem nos gastos ponderados por família. Os brasileiros que recebem até três salários mínimos, 46% da população, gastam entre 18% e 22% de toda sua renda com alimentos. Por isso, para eles a alta da feira pesou muito mais. A inflação da comida dos mais pobres foi a 10,2% no ano. É a maior variação de preços de comida da década.
Não havia grita porque a maioria desses brasileiros estava recebendo o auxílio emergencial. Agora que o auxílio foi reduzido, o humor começou a piorar. Em janeiro, quando o auxílio acabar, aí será um terremoto.
O humor do brasileiro se mede pelo bolso. No começo de 2013, com a redução do preço da energia elétrica, o adiamento dos reajustes das tarifas de ônibus e a redução de impostos sobre a cesta básica, o governo Dilma Rousseff bateu recordes de popularidade. Havia, no entanto, uma pressão inflacionária latente, representada pela alta do tomate. Quando as prefeituras subiram o preço das tarifas de ônibus, a insatisfação explodiu.