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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Depois da pressão de Lira, Lula se aproxima do Senado

Minoritário na Câmara, presidente tenta acordo de longo prazo com senadores

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 Maio 2023, 17h57 - Publicado em 29 Maio 2023, 09h36

No complexo equilíbrio com o Congresso, o governo Lula tende a priorizar a sua maioria no Senado e negociar na Câmara, onde é minoritário, caso a caso. Nesta semana, Lula da Silva deve jantar com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e outros senadores para conversar sobre um acordo de longo prazo e ouvir uma proposta sobre a execução do Orçamento – o ponto crítico do descompasso com o Congresso.

Na quarta-feira à noite, dia 24, o presidente Lula da Silva se reuniu por mais de três horas, no Palácio do Planalto, com os veteranos senadores Renan Calheiros e Eduardo Braga. Pela primeira vez em quase cinco meses, Lula ouviu algumas verdades que seus próprios ministros gostariam de dizer, mas não reúnem coragem de falar. O governo é minoritário no Congresso, os ministros não controlam as bancadas na Câmara e Senado, a distribuição das emendas parlamentares está desorganizada, o PT está atrasando a distribuição de cargos nos ministérios e, se nada for feito, o resto do mandato de Lula será se defender de pautas-bomba, como o desmoronamento da organização dos ministérios votado na semana passada.

Presentes no encontro, os ministros Rui Costa e Alexandre Padilha concordaram, com nuances, com o diagnóstico.

Uma avaliação vinda de Renan e Braga teria como ingrediente óbvio maldizer o presidente da Câmara, Arthur Lira, e como receita uma maior aproximação com o Senado. Na semana que vem, Lula janta com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e um grupo seleto de senadores. Do encontro pode vir um compromisso de que a Casa vai segurar o tratoraço organizado por Lira na Câmara.

É uma meia solução. A estrondosa aprovação da nova regra fiscal por 372 votos na Câmara no mesmo dia que o relatório da MP de reorganização dos Ministérios desordenou a configuração do governo Lula comprova o poder de Lira. Senhor dos mares, o presidente da Câmara pode oferecer calmarias ou tempestades ao governo a depender de quanto do orçamento ele tiver sob o seu comando. O malefício que Lira pode eventualmente fazer ao governo Lula pode ser contrabalançado pelo Senado, mas uma Casa não funciona sem a outra. Ter apenas maioria no Senado paralisa a agenda do governo na Câmara.

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Na sexta-feira 26, a posição de Lula era fechar acordos pontuais com Lira, se aproximar de Pacheco e apressar internamente a distribuição de cargos e emendas. Nas contas oficiais, o governo Lula empenhou (ou seja, reservou para gastos ao longo do ano) R$ 2,9 bilhões de emendas individuais, R$ 930 milhões de emendas de bancada e R$ 1 bilhão do antigo orçamento secreto. São mais de R$ 4,8 bilhões – o que seria superior ao prometido por Bolsonaro no mesmo período de 2022. Há alguns problemas, porém: a grande parte destas emendas que começam a ser pagas agora foi prometida em 2022 por Bolsonaro, o que significa que elas foram combinadas com quem era deputado no ano passado. Os mais de 190 deputados que assumiram em fevereiro deste ano ainda não receberam nada.

O busílis entre governo e Congresso é quem decide quais deputados terão emendas liberadas e qual o seu valor. É uma disputa de R$ 20 bilhões (metade para a Câmara e metade para o Senado).

Lira quer manter o esquema que funcionava no governo Bolsonaro, no qual ele decidia sozinho quem deveria receber e quanto. O resultado natural era que a fidelidade do deputado passava a ser com Lira e não com o governo. Na reunião de quarta-feira, Lula disse aos senadores que não vai aceitar esse esquema. Ele vai tentar um acordo de convivência com Lira, mas sem ceder o controle do orçamento.

Conseguir um acordo com Lira requer uma paciência e dedicação que Lula não demonstrou na campanha, nem na transição, nem nesses primeiros cinco meses de governo. Neste terceiro mandato, Lula faz pouca política, recebe raros deputados que não sejam do PT e exibe uma fadiga com o teatro das articulações. A sua impaciência só é maior com a possibilidade de mediar conflitos entre ministros, como teve de fazer nessa semana entre Marina Silva (Ambiente) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) sobre a exploração de petróleo na Amazônia.

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Neste terceiro mandato, Lula tem recebido menos políticos e dedicado mais tempo a questões internacionais do que à articulação com o Congresso. Corre em Brasília o rumor de que a responsabilidade seria da mulher de Lula, Janja, que teria palavra final sobre sua verdade. É uma meia verdade. Embora seja visível a influência de Janja na agenda presidencial, quem acompanha o ritmo de Lula acredita que Lula usa o nome da mulher como pretexto para evitar alguns compromissos. Na sexta, dia 26, Lula promoveu o primeiro churrasco da sua gestão com ministros, festividade que era semanal nos dois primeiros mandatos.

O tema que fascina Lula nas últimas semanas é a política externa. Gosta das conversas com outros chefes de Estado, e mesmo a cansativa viagem a Hiroshima, para o encontro do G-7, no fim de semana foi saudada como positiva. Lula considera que, no longo prazo, a sua posição de “todos estão errados” na Guerra da Ucrânia irá lhe permitir um papel relevante na negociação de paz.

Na quinta-feira, Lula conversou com o presidente chinês Xi Jinping. Na sexta, com o russo Vladimir Putin. Na próxima terça-feira, ele será o anfitrião de dez presidentes sul-americanos, com quatro reuniões bilaterais já marcadas. Na quinta, ele recebe o presidente da Finlândia para discutir a guerra.

Numa comparação simples, Lula tem mais empenho em tentar um encontro com Volodymyr Zelensky, mesmo depois do drible que o líder ucraniano lhe aplicou no Japão, do que com o deputado Elmar Nascimento, líder do União Brasil, partido com três ministros no governo, mas cujos 59 deputados são bolsonaristas na maioria.

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Só que o governo precisa mais de Brasília do que de Kiev.

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